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terça-feira, 31 de maio de 2011

Inquisição: O Reinado do Medo

O historiador inglês Toby Green apresenta um panorama  vivo e acessível dos mais de 300 anos de medo instaurados na Espanha e em Portugal pela Inquisição – matriz, segundo ele, dos regimes totalitários do século XX.

O tribunal da Inquisição retratado por Goya no século XIX:
vigilância absoluta do cotidiano de todos os cidadãos


Luis Carvajal e suas irmãs Isabel e Leonor foram condenados à morte na Cidade do México, em 1596. O processo começou a partir da denúncia de uma vizinha portuguesa que observara uma sucessão de indícios criminosos: no lar dos Carvajal não se comia porco e só se cozinhava com azeite de oliva, jamais com banha. Aos olhos da Inquisição, essas eram provas de que os acusados obedeciam, em segredo, à lei judaica, que proíbe o consumo de carne suína.

Na Espanha, em Portugal e nas suas colônias na América, África e Ásia, os chamados convertidos ou cristãos-novos - judeus que, por convicção genuína ou temor de perseguição, aderiram ao catolicismo - foram as vítimas preferenciais dos inquisidores. Ninharias cotidianas como o uso de azeite ou o consumo de pão sem fermento bastavam para levá-los à fogueira. Os interrogatórios, conduzidos com grosseiros aparelhos de tortura que esticavam e dilaceravam os membros, tinham como pressuposto a culpa do acusado, ao qual só restava confessar suas faltas. Denúncias podiam ser apresentadas por qualquer informante anônimo - como a vizinha fofoqueira, no caso dos Carvajal. O historiador inglês Toby Green, do King´s College de Londres, vê nesse sistema uma antecipação das práticas dos regimes totalitários do século XX - mesmo de regimes que se anunciavam como ateus. O modelo de vigilância sobre os cidadãos a partir de uma rede de informantes anônimos é criação da Inquisição espanhola. E seria usado, por exemplo, pela Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental, disse à  revista Veja o autor de Inquisição - O Reinado do Medo. Resultado de extensa pesquisa nos documentos da Inquisição preservados em instituições como o Arquivo Histórico Nacional, em Madri, o livro fornece um panorama vivo e acessível de um dos mais draconianos aparelhos de repressão da história.

Autorizada pelo papa Sisto IV em 1478, a Inquisição espanhola começou suas atividades em 1480 (sua contraparte portuguesa seria criada em 1547). Na interpretação de Green, a Inquisição espanhola foi, ao contrário da Inquisição medieval, que a antecede em mais de dois séculos, uma instituição marcadamente política, ainda que amparada em justificativas religiosas. A partir do século XVI, a serviço da chamada Contrarreforma, ela passou a interrogar, torturar e matar não só os convertidos, mas também cristãos velhos suspeitos de adesão às ideias dos reformistas Lutero e Calvino. Sua função primordial, porém, foi impor violentamente uma monolítica identidade cultural e religiosa à Espanha que os reis Fernando e Isabel haviam unificado no século XV, reunindo as regiões de Aragão e Castela depois de anos de guerras civis e religiosas. Ao longo dos mais de três séculos de existência da Inquisição espanhola, o Vaticano repetidas vezes tentou limitar seus poderes - sempre com a oposição do trono espanhol.

A Inquisição na Espanha foi extinta com a invasão de Napoleão, em 1808. Depois da expulsão do invasor francês, o rei Fernando VII até tentou reinstaurá-la, mas acabou cedendo à pressão política e declarou-a definitivamente encerrada em 1820. O número de mortos e torturados pelos inquisidores é incerto, pois muitos arquivos foram destruídos. Sabe-se que o primeiro meio século de atividade foi o mais violento, com 50 0000 pessoas julgadas em toda a Espanha, e grande parte delas executada. Em Toledo, cidade de forte tradição islâmica e judaica, 10% da população teria passado pelos tribunais. No século XIX os autos de fé e as execuções haviam se tornado relativamente raros - mas a Inquisição seguia ativa, por exemplo, na censura à imprensa e aos livros. A sociedade espanhola ainda vivia sob o jugo da humilhação e do medo. O livro de Green é uma análise assustadora do poder de coerção social da paranóia.





Livro: Inquisição
Autor: Toby Green
Editora: Objetiva
Páginas: 480
Valor: depende do lugar, entre 42 e 53 reais.






Revista Veja - edição 2218 -  25 de Maio de 2011
Por Jerônimo Teixeira



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(Selma)

4 comentários:

  1. Eu sei muito pouco sobre a Inquisição, mas isso me fez lembrar de uma entrevista da Ivete Vargas ao jornal O Estado. O jornal sempre trata GV como caudilho, e a Ivete retrucou o repórter afirmando que a História "é uma sucessão de mentiras, contatadas tantas vezes, que todo mundo começa acreditar que GV foi um caudilho".

    Eu jamais iria presentear a princesa com um livro que fala sobre Inquisição, principalmente porque ela é do time que teme a Deus a ao Papa. Ao invés disso, eu iria dar o gibi da Mônica que traz nessa semana o tema "Quer namorar comigo?"

    Um forte abraço,

    Frank K Hosaka
    fhosaka@uol.com.br (11)8199-7091

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  2. Olá, Hosakinha André Peg.! Ardendo muito esse teu rabicózinhozinho de católicucuzudinho ? Faça como o papa: de meia em meia hora leve uma enrabadinhazinha do guarda suiço, o Hans , hehehe.... Auf wierdesehen

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  3. Olá, Hosaka ! Ainda está ardendo muito esse teu rabicó de católicuzudo ? Faça como o papa: de meia em meia hora leve uma enrabada do Hanz Steuler ( guarda suiço do Vaticano ) ,hehehe ...

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  4. Seja ateu! É outra coisa! Sendo ateu, você não é obrigado a crer em coisas como as BOLINHAS DE LANCIANO - onde cada uma pesa o mesmo que o conjunto! Mas vão mentir assim no raio que os partam! ...Se você não é ateu periga morrer estrebuchando na ponta de uma corda! hehehe, o Hosaka se bórra todo nas calças de medo de morrer!hehehe, ele e o Magalhães !

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