(publicado pela primeira vez no Filosofia Matemática em 07/04/.2.011)
No jardim, as plantas e as flores conversavam todas entre si,com frequência,porque nunca havia nada para fazer.
Não havia passeios - não havia como sair do chão.
Nada conheciam da vida, nem concebiam como eram as viagens, porque para se ter a idéia de como é uma coisa,é necessário ter os membros do corpo adequados àquela experiência.
E as conversas desses vegetais versavam só sobre o visto.
Sobre as sensações.
Os arranhões,as dores,a fome, as sensações cinestésicas.
Não tinham pai, não tinham mãe, não tinham afins, mas eram afins-quimica e mentalmente.
Solidarizavam-se no sol e na chuva.
A vida era eminentemente uma ode à sensualidade, uma canção cinestésica, um pacote explosivo de sensações pelos corpos, pelos poros.
Se pudéssemos ouvir as flores, elas estariam sempre aos gritos, aos berros, de alegria,ou de desespero.
As mais velhas aconselhavam as plantinhas que brotavam do chão- e as “mocinhas” que abriam os botões.
Não havia como dizer de que forma deveriam se proteger da tesoura das mulheres, dos predadores, da poluição incipiente das ruas- e nesse tempo, ainda haviam poucos carros.
O aconselhamento, era a devoção ao deus sol.
Talvez, a “verdade” estivesse com ele.
Uma margarida, num enorme canteiro de margaridas, abria-se em flor.
Ela se revoltava contra o seu destino cinestésico, e não gostava da idéia de só viver, se alimentar, fazer a fotossintese, e parir simplesmente o tempo inteiro.
Fez amizade com os beija flores.
Eles tentavam passar à mesma a idéia de como eram as viagens, e as andanças dos animais que tem pés.
Ela não percebia que enquanto os escutava, não só os alimentava, mas espalhava por muitos cantos, suas sementes.
Acabaria um dia alertada de que ia ter muitos filhos- ou filhas margaridas, cujos destinos ela nem jamais sonharia.
Já se rendia a essa altura, à sua sina cinestésica.
Gostava da sensação de ver suas sementes levadas embora, pelo vento e pelos pássaros.
De todas as flores do jardim, era a que mais se virava para o sol, fosse em qual direção ele estivesse.
Passou a desenvolver um complexo de onipotência.
Ela era um imenso “falo” parindo o tempo inteiro, toda a vida, em sensações explosivas de vinculação à vida material, e complementações por todos os lados.
Bem mais do que outras flores.
Um dia, exagerou em seu zelo, e quis ser o sol.
O sol, o qual- segundo diziam, se realizava dando a vida a plantas, animais, animais homens, insetos, vermes.
Deixando-se levar por uma grande tempestade, acabou saindo do chão, finalmente, e realizando sua fantasia de menina.
Caminhou para outro lugar, mesmo sem ter pés.
Voou, voou, voou.
Morreu para aquela vida de margarida.
Sua raiz foi enterrada no chão pela dona da outra casa.
Tempos depois, ela renascia, mas não era mais a mesma.
Havia se transformado em várias, com as mesmas inclinações.
Os campos agrícolas, as paragens rurais renasciam nas primaveras.
As flores, independentemente do que eram e do que pensavam, cobriam esses campos.
Assim elas eram, que nem nós.
Nossas vidas, muitas vezes, seguem à revelia, e vamos cumprindo nossos papéis, por causa ou apesar de tudo.
http://www.mundodeflores.com/rosas-fotos-margaridas.html
Esse é o resumo de um conto que ocupou um caderno de escola, em 1.980.
ResponderExcluirTempo de maior interesse(ainda) na natureza,pois ela então refletia a "primavera havida em mim".
Meio pagã, devota remota do deusinho Eros- esperava pelo "missionário que me "civilizaria"-(o Príncipe)
Deus e Natureza,contudo,são um só.
A civilização,implica na harmonia com os sistemas existentes.
Essa foi uma lição dos anos.
O amor não é nada incompatível com isso-ao contrário.
Vejam as flores na galeria que ilustra o texto,e vejam outras nessa mesma galeria- porque são imagens muito boas.
Enviei essa crônica semanas atrás em réplica ao sr.Hosaka,e depois, postei na minha página aqui no blog.
Uma boa primavera- a todo mundo.
(há pouco, os pixarros aqui,nas imediações,entoavam seu canto profundo e merencório)
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Não postei imagens de campos de flores,pois todas(as vistas no Google) compatíveis com a prosa, eram pequenas demais.
ResponderExcluirPreferi uma boa galeria,dessa vez.
As imagens na mesma, estão tamanho razoável.
Mas, Srta. Nihil, de quantas Primaveras estamos falando?
ResponderExcluirPara festejar a chegada de mais uma Primavera, Graças a Deus!, estou indicando a música de Richard Wagner, Bridal Chorus
ResponderExcluirE aqui mais flores com Antonio Vivaldi, Primavera
ResponderExcluirSimone:
ResponderExcluirPara não dizer que não falei das flores
Por que a loira só toma banho no inverno e no verão?
ResponderExcluir- Porque no chuveiro só tem "inverno-verão", não tem primavera e outono.