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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Canções de um mundo distante,- por mala nihil

Esse será o resumo do meu conto "Quase um Brâmane" para o gd do terra, conto que não chegou a ser concluído.
Isso porque alguém queria ouvir "gandharvas" aqui nesse blog, e resolvi atender o "pedido".

Em meio aos doces sons de harpas, Ahimsaka nasceu, há uns dois mil e quinhentos anos atrás, quinze anos depois de sri Santinho haver nascido. A vida do primeiro,porém, foi menos doce do que essas canções.
Seu pai,um astrólogo-imaginando que o filho seria ladrão ao crescer,logo o rejeitou. A criança, que já havia nascido com autismo parcial, teve meningite, doença que estigmatiza alguns sobreviventes a ela, com um legado de problemas mentais.
A mãe - para livrar o menino do preconceito do pai, deu-o à outra família.

Muito manso, o pequeno Ahimsa ajudou a criar os irmãos mais novos do outro lar. Um dia, porém,foi para uma escola de artes marciais,pois gostava de lutas físicas. Encantou-se pela esposa do mestre, e duelou com ele, pelo afeto da mesma. Na briga, ele caiu com a cabeça numa pedra, e então, sua loucura, já latente, veio à tona.
Pouco tempo depois, seus pais adotivos foram mortos num assalto, na rota do caminho da seda.(eram vendedores de especiarias)

Enlouquecido,foi expulso da escola pelo mestre, e levou consigo o único bem do qual só se separaria alguns anos mais tarde, que foi um colar de dedos de tigre dente-de-sabre dado a ele pela esposa do seu mestre de lutas marciais.
Esse se tornaria sua famosa "mala de dedos", que ele usaria em volta do pescoço.

Interno nas matas, eliminou primeiro os algozes dos pais adotivos. Depois,começou a fazer o mesmo a todos os que ele reconhecia como maus elementos da sociedade. E inventou que seu colar era um colar de dedos dessas vítimas. Mentira, pois brâmanes nunca tocavam em cadáveres. Ahimsaka nunca extraiu os dedos de nenhuma delas.
Mas, seu colar lhe valeu o apelido de Angulimala.

Entretanto, um fato estranhissimo lhe ocorreu. Ele costumava fazer a meditação do "olho mágico" diariamente, e na glândula pineal, ele via uma figura de um santo, que gradualmente, foi lhe curando as doenças mentais, no decurso dos anos.
Perto dos quarenta anos, ele já não matava mais ninguém - pois perdera o interesse por aquela "vingança contra o mundo".
Sua mãe biológica já o havia encontrado e o visitava de vez em quando.

Um dia, o santo com o qual ele vivia sonhando na meditação lhe apareceu. Eles se entrosaram bem, e Angulimala - profundamente comovido por saber  que podia superar seu sofrimento pela excessiva raiva pelo mundo, decidiu acompanhá-lo. Ele sabia que seu futuro ia ser duro, mas poder viver em maior equilibrio, e sem ódio no coração, lhe pareceu um prêmio que compensaria esse sofrimento todo.

Foi destruído pelo remorso,desenvolveu alzheimer, e para não viver como vegetal, se suicidou aos cinquenta anos, após a inequívoca sensação de ter alcançado um tipo de "nirvana".

Ao chegar aos "céus" recusou ficar lá, - porque tudo o que ele vivera lhe dera bastante em que pensar. Tinha que proteger o mundo da loucura, e tinha que proteger as pessoas contra o enlouquecimento, ninguém teria que passar o que ele passara.

Séculos depois, um monginho chamado Samudra, compensou o que Angulimala fez de errado. Cumpriu um importante papel na tomada de juízo do imperador grego Ashoka, e junto desse parceiro, difundiu o budismo pela Ásia.
Samudra era apaixonado por jardinagem e por floricultura.E foi discípulo do mestre Nagarjuna, ou o mestre serpente- inspirador da existência do budismo Terra Pura, na corrente Mahayana, criada pelo imperador, que além de tudo, registrou em livros, as tradições e cânticos hinduístas, como osVedas, o Mahabaratta, os Upanishades, etc.
Essa foi a época da invasão grega no continente ìndico, e a dupla dinâmica formada por imperador e monge, deu um breque na violência que ali grassava naquele tempo.

A razão da atração de Samudra pelos ensinamentos do mestre serpente, foi o interesse desse mestre pela psicologia profunda e que posteriormente, ficaria conhecida como a Psicanálise, e Samudra tinha motivos de sobra para ter esse interesse.

Todas as futuras passagens de MalaSamudra, se fizeram de opções cada vez mais precisas pelo budismo Terra Pura, pois de fato, sr.Mala seguiu sri Santinho para sempre, e nunca mais esqueceu do mestre que o mandou colar um galho quebrado numa árvore.(eu já nasci sabendo dessa história do galhinho do remorso...)

E quando eu tinha quinze anos, numa das duas visitas que fiz à cidade de Campos do Jordão, em São Paulo, passeando de bonde sobre o abismo da Serra da Mantiqueira, tive uma visão onírica e sobrenatural, numa parte da mata densa.
Vi ali uma poderosa estátua de sri Santinho me dando as boas vindas.

Muitos anos depois, foi mesmo construído um templo tibetano ali.

O resumo acima, apresentou uma tentativa literária que foi uma soma entre cultura antiga, hinduísmo, budismo e psiquiatria.

A história é setenta por cento apócrifa, e parte do seu conteúdo, foi extraído de alguns sonhos que eu tive com um personagem entitulado "guardião de sótão" quando menina.
Nunca vou saber se o "guardião do sótão" é o mestre Nagarjuna, ou se é o sr.Mala em pessoa.

Por que achei que podia fazer uma tentativa de escrever um romance?
Eu já havia treinado ,quando garota. Escrevi sobre o rallie paris dakar- aquela competição de viagens de automóveis, e sobre princesas empobrecidas, mas que recuperavam seus títulos de nobreza, quando chegavam aos trinta anos.

Imaginem uma baixinha com um distúrbio linguístico querer escrever romances...só mesmo sendo uma "mala uquete"!!!

Prometi a alguém que um dia meus temas seriam menos fáceis. Escreveria sobre um "diabo que se humanizou".
Cumpri o prometido,décadas depois.

Esse resumo de agora, será uma apresentação da repetição dessa "monografia" num futuro blog.

Por ora, é tudo, obrigada pela paciência, espero que tenham gostado desses sons de gandharva.

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