Freud disse que todos temos problemas mentais, de menor ou de maior grau. Isso comentei com um amigo, ainda hoje pela manhã, quando conversávamos sobre o comportamento estranho de uma pessoa.
Tenho uma amiga que vive dizendo que vai se separar do marido, devido a incompatibilidade de gênios. Mas isso faz tempo, faz mais de 10 anos e até hoje nada... Recentemente brigou com o marido e no calor da discussão jogou uma tesoura no pobre coitado, a tesoura acabou por atingir a região entre a articulação da mão e do antebraço e cortou uma artéria. Teve que ser levado as pressas para o hospital. Você acha que eles se separaram? Você acha que ela não é normal?
Não, eles não se separaram. Depois desse incidente parece que o relacionamento entre ambos melhorou um pouquinho. E ela é normal sim... Pelo menos tem comportamento de gente normal.
Já aconselharam que procurassem psiquiatras, psicólogos ou psicanalistas para resolver os problemas conjugais, mas eu – particularmente – penso que a procura de tais profissionais não será a fórmula mágica para todos os problemas.
Tenho uma outra amiga que desistiu de viver. Ou melhor, finge que vive. Procurou um médico para saber o que tinha e este a encaminhou para um psiquiatra que a entupiu de antidepressivos. Agora ela toma os antidepressivos e vive dormindo. Fala para todo mundo em alto e bom tom que o médico disse que ela tem “DEPRESSÃO”, e assim vive, alimentada pela própria doença. Muitas coisas ela queria fazer mas ela sempre acrescenta a frase: “Eu faria, se não fosse a DEPRESSÃO”. Eu não sei se no caso dela o diagnóstico foi benéfico ou maléfico, pois agora ela vive literalmente a depressão, dizendo que não tem vontade para nada... Mas eu diria que tem sim, ela tem vontade de ficar em casa, vontade de dormir, vontade de falar que tem depressão, e vontade de não ter vontade.
Recentemente minha mãe confessou que quando recém casada tinha medo de sair na rua. Ficava, então, trancada dentro de casa e não saía para nada, nem para pequenas compras. Hoje ela tem 75 anos e não sente nada disso. Mas sofreu muito naquela época, cerca de mais de 50 anos atrás. Os médicos receitavam calmantes e diziam que ela tinha problemas de “nervos”. Hoje isso é conhecido como síndrome do pânico.
O 233 é normal? Ou eu é que tenho problemas em acreditar em espíritos?
A Nihil é certa? Muitos já disseram que ela é maluca porque cria niques e os usa para conversar com ela mesma.
Mas penso que era isso que Freud queria dizer. Todos têm problemas. Todos têm momentos de loucura. Alguns têm muitos momentos de loucura. Outros têm poucos momentos de loucura. Mas todos os seres humanos têm a loucura ou momentos de desequilíbrio presentes em sua vida.
Seria ideal procurar ajuda profissional?
O número de psicólogos deu um salto de 48% desde 2000, de 123 mil para 182 mil. Sem contar o crescimento do número de psicanalistas, psiquiatras e outros profissionais, como os filósofos clínicos. A quantidade de pessoas que procuram terapia também deve aumentar, já que o governo tornou obrigatório aos planos de saúde oferecer 12 sessões anuais de psicoterapia a todos os conveniados. Se antes ir a psicólogos era coisa de “problemáticos”, hoje falar da experiência parece ser um bom jeito de engatar conversas com amigos no bar.
A palavra vem do grego therapeúein, que carrega significados como assistir e cuidar. Desabafar no ombro do amigo e conversar com um médico atencioso pode até ser terapêutico – mas não é um método que afasta o sofrimento por meio de técnicas apoiadas em fundamentação teórica, as psicoterapias, todas, de um modo ou de outro, baseadas no tratamento pela fala. Entre quem frequenta um psicoterapeuta e quem está pensando em procurar um, é comum haver dúvidas do tipo: vale a pena gastar tempo e dinheiro com isso? Não é besteira contar detalhes da intimidade a alguém que mal conhecemos e que não oferece nenhuma garantia de eficácia? Afinal, terapia funciona?
Sim e não. Dezenas de pesquisas neurológicas provam que sessões de psicoterapia modificam conexões neurais e padrões de comportamento. Apesar disso, é grande a possibilidade de você conhecer terapia e achar o método inútil – e até bizarro.
Tantas correntes diferentes de psicoterapia impõem uma questão: como saber qual é a mais eficaz ou pelo menos se alguma delas é eficaz?
É aqui que entra uma outra área da ciência que está se interessando pelo que acontece no divã. Pesquisas com neuroimagem funcional, método que fotografa o fluxo sanguíneo no cérebro, estão provando que a terapia baseada na fala causa, sim, efeitos permanentes no nosso sistema de aprendizagem, na memória e no processamento de emoções.
O último estudo da área, feito na Universidade de Amsterdã no ano passado, analisou 20 pessoas com transtorno do estresse pós-traumático, distúrbio que geralmente atinge quem passa por traumas como sequestro, acidentes graves e abuso sexual. Elas foram submetidas a uma sessão semanal de psicoterapia breve – inspirada em Freud, porém focada e mais curta – durante 4 meses. Enquanto isso, outras 15 pessoas com o mesmo diagnóstico ficaram num grupo sem tratamento. No final, o cérebro de quem fez terapia mudou. Houve mais atividade em regiões do córtex pré-frontal, área relacionada a cálculos, pensamentos práticos e ações que tomamos conscientemente. Na prática, o tratamento deu alívio a sintomas que têm tudo a ver com traumas, como hipervigilância (estado de alerta permanente) e recordações aflitivas, que se manifestam em pesadelos e pensamentos recorrentes.
Alguém pode logo dizer que não é privilégio da psicoterapia alterar redes neurais. E não é mesmo. Com maior ou menor intensidade, as experiências da nossa vida provocam mudanças na atividade cerebral – como na hora em que ouvimos a seleção de músicas da nossa banda favorita, recebemos a notícia triste da morte de alguém ou damos uma boa caminhada no parque. “O que é bastante recente é o reconhecimento da comunidade científica sobre a intensidade e a permanência das mudanças alcançadas pela psicoterapia. Não se imaginava que o funcionamento do cérebro pudesse ser alterado tão dramaticamente pelo tratamento, e com benefícios tão duradouros”, diz o psicólogo e neurocientista Marco Montarroyos Callegaro.
É como se o pensamento alterado pela terapia fosse a tabuada que a gente não esquece mais. “Os sistemas de memória e aprendizagem constituem a base de todas as psicoterapias. Como o cérebro é uma estrutura plástica, que se modifica de acordo com nossas experiências, o tratamento consegue atuar em determinados circuitos”, diz Jesus Landeira-Fernandez, diretor do Laboratório de Neuropsicologia Clínica e Experimental da PUC-RJ.
Meses antes da pesquisa holandesa, uma outra, realizada pela USP, mostrou resultados parecidos. O estudo envolveu 16 pacientes também com transtorno do estresse pós-traumático. Eram pessoas que tinham vivido eventos como a morte de parentes, seqüestro e assalto. Em dois meses, elas passaram por sessões semanais de uma psicoterapia chamada exposição e reestruturação cognitiva, que consiste em revisitar o evento para então dar a ele um significado menos traumático. Outros 11 pacientes com o mesmo distúrbio ficaram numa lista de espera. Resultado: aqueles que foram às sessões tiveram mais atividade no córtex pré-frontal e menos na amígdala. Como esta parte do cérebro regula nossa sensação de medo, a relação é direta: a terapia reduziu o medo e a ansiedade dos pacientes. Já quem ficou no grupo de controle não teve mudanças relevantes. “Novos arranjos das sinapses ocorrem durante o aprendizado promovido pela psicoterapia”, diz o psicólogo Julio Perez, o autor do estudo. “O tratamento modifica as redes associativas que antes estavam relacionadas à situação que causava dor e dificuldade.”
Quer mais? Há ainda estudos provando a eficácia da terapia para problemas específicos, como as fobias. Na Alemanha, em 2006, 28 voluntárias perderam o medo de aranha em sessões semanais, de 5 horas, de TCC. Elas tiveram menor atividade da ínsula e do giro do cíngulo anterior direito, áreas ligadas àquelas reações que nós não controlamos, como ficar assustado e com o coração batendo rápido logo depois de ver uma aranha. No Japão, também em 2006, 12 pacientes com síndrome do pânico se livraram do mal em 10 sessões de terapia comportamental ao longo de 6 meses. O cérebro deles também deu uma recauchutada nas áreas ligadas ao medo, à memória e ao pensamento consciente. “Há indícios de que as psicoterapias promovem o fortalecimento das funções executivas, ligadas ao córtex pré-frontal”, diz Landeira-Fernandez. Em outras palavras, a terapia fez as pessoas pensar melhor.
As pesquisas de neuroimagem indicam que quem completa o tratamento sai, em geral, 80% melhor do que os pacientes fora do consultório. É um resultado tão positivo que já está provocando mudanças na saúde pública de alguns países. Na Inglaterra, o governo anunciou um investimento de 170 milhões de libras para treinar 3 600 profissionais em terapia cognitivo-comportamental. “O valor inicial do tratamento com antidepressivos é inferior ao da psicoterapia. No entanto, no médio e no longo prazo, a melhor relação é a do tratamento psicoterápico, que tende a apresentar menor reincidência da depressão e efeitos mais duradouros”, diz Callegaro. O resultado também fez até os mais céticos admitir as vantagens da terapia. “Uma coisa é a teoria ultrapassada de Freud, outra são os efeitos comprovados da prática”, diz o neurocientista Sabbatini.
Por fora da terapia
Mas tem um probleminha. A neuroimagem também levanta questões que incomodam a psicologia. Em grande parte das pesquisas, há um paradoxo aterrador: não importa se o paciente passou por um tratamento inspirado em Freud ou uma prática mais nova. No fim, o efeito de todas é muito parecido. Ou seja: em eficácia, abordagens distintas não fazem diferença nenhuma entre si. Inconformados com isso, pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, tentaram recentemente pôr fim ao mistério. Durante 3 anos, eles estudaram 5 500 pacientes que passaram por 3 tipos de terapia: cognitivo-comportamental, psicodinâmica e centrada na pessoa. Conclusão publicada em 2007: equivalência de novo.
Mas tem um probleminha. A neuroimagem também levanta questões que incomodam a psicologia. Em grande parte das pesquisas, há um paradoxo aterrador: não importa se o paciente passou por um tratamento inspirado em Freud ou uma prática mais nova. No fim, o efeito de todas é muito parecido. Ou seja: em eficácia, abordagens distintas não fazem diferença nenhuma entre si. Inconformados com isso, pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, tentaram recentemente pôr fim ao mistério. Durante 3 anos, eles estudaram 5 500 pacientes que passaram por 3 tipos de terapia: cognitivo-comportamental, psicodinâmica e centrada na pessoa. Conclusão publicada em 2007: equivalência de novo.
O fato de terapias diferentes funcionarem igualmente cria uma hipótese: talvez a psicoterapia não funcione pelo motivo que os terapeutas apontam, mas por razões não tão confortáveis à psicologia. Dylan Evans, pesquisador da Universidade de Cork, na Irlanda, especializado em psicologia evolutiva, defende uma dessas razões incômodas: “Se as diferentes técnicas não têm qualquer impacto na recuperação, então é plausível que os benefícios se devam à única coisa que todas as abordagens têm em comum. A crença do paciente de que está recebendo ajuda médica de boa-fé”. Ou seja: efeito placebo – o mesmo que faz as pessoas se sentir melhor depois de tomarem um remédio de farinha ou passarem por um benzimento.
Evans conta em seu livro Placebo (sem tradução para o português) que essa possibilidade teria assombrado Freud até a morte. O Pai da Psicanálise acreditava na supremacia do seu método e, tão logo diferentes linhas se formaram dentro da escola psicanalítica, passou a atribuir os efeitos provocados por essas dissidências à pura sugestão. “Logo se tornou claro que seus próprios pacientes não diferiam em recaídas daqueles tratados por heréticos como Jung e Adler”, afirma Evans.
Assim se desenrola um novelo de pontos fracos dos tratamentos psicológicos. Apesar de as pesquisas neurológicas provarem os efeitos da terapia, não há provas de que isso acontece pelos motivos que os terapeutas apontam. “Na área da saúde mental, é difícil até saber qual é o distúrbio que a pessoa apresenta”, diz Sabbatini. Distúrbios mentais não são como dores de cabeça – não há certeza do que o paciente tem e nem se o tratamento vai ser eficaz como um analgésico. A falta de fundamentação faz das terapias um serviço estranho: elas oferecem um tratamento sem saber se ele vai dar certo. Por causa disso, “a psiquiatria é uma das últimas áreas da medicina que ainda não conseguiu o status de ciência”, diz Sabbatini.
É o que os especialistas chamam de fase empírica não científica: quando se descobriu, pela prática, que uma erva ou uma atitude ajudam a prevenir ou curar uma doença, mas sem ninguém saber exatamente por quê. Por exemplo: no século 18, o médico italiano Giovanni Lancisi acreditava que a malária era contraída ao se respirar o ar fétido de pântanos – daí o nome da doença, que vem de “maus ares”. De fato, deixar de circular em pântanos evita malária, mas não por causa dos maus ares, e sim porque o lugar é cheio de mosquitos – estes, sim, a verdadeira origem da doença. As psicoterapias podem estar nesse nível. Baseiam-se numa crença forte e têm alguma eficiência, mas ninguém sabe exatamente como a melhora acontece. E mais: pode haver uma causa e um tratamento mais acertados, porém não descobertos.
Um exemplo é a genética. Por muito tempo, acreditou-se que a esquizofrenia era um mal psicológico que deveria ser tratado no divã. Quando vieram à tona suas raízes genéticas e químicas, a psicoterapia para tratar esquizofrenia virou coisa do passado. Do mesmo modo, cada vez mais pesquisas ligam os genes à predisposição ao comportamento depressivo. E uma pesquisa de biólogos evolutivos dos EUA acaba de mostrar que a hiperatividade tem laços genéticos. Psicólogos costumam explicar esse distúrbio como uma estratégia de filhos para chamar a atenção dos pais. Já os biólogos americanos descobriram que há uma razão evolutiva para a hiperatividade existir. Quando o ser humano vivia em grupos nômades, não conseguir parar quieto era uma vantagem competitiva para caçadores e pastores. Hoje, porém, a vida sedentária fez desse traço um problema. Pesquisas como essa mostram que, no futuro, os cientistas podem descobrir que tratar depressão ou hiperatividade no divã é tão equivocado quanto achar que os ares do lodaçal causam malária.
Trapalhadas no divã
Para os psicoterapeutas, porém, a história é outra. Se linhas diferentes de tratamento funcionam da mesma forma, não significa que o efeito da terapia seja placebo ou coisa parecida. E sim que a eficácia não depende do tipo de tratamento, mas da vontade do paciente em amadurecer, da habilidade do terapeuta e sobretudo da relação que os dois desenvolvem.
Pouca gente gostaria, por exemplo, de se tratar com quem se compromete mais com a doutrina em que se formou do que com o paciente. E passa as sessões tentando encaixar o pobre coitado na teoria. Críticos da psicanálise chamam essa prática de “cara eu ganho, coroa você perde”. É o caso do analista convicto de que o rapaz sofre do clássico complexo de Édipo, quer matar o pai para ficar com a mãe. Se ele concorda com a interpretação, perfeito. Se não, é porque está reprimindo impulsos sexuais. “Um dos desafios é não tornar o nosso fazer um leito de Procusto”, diz Julieta Quayle, um dos presidentes da Associação Brasileira de Psicoterapia. No mito grego, os hóspedes de Procusto não saíam vivos de sua casa, pois ele cortava ou esticava seus pés para que coubessem no tamanho exato da cama que oferecia.
Também há o problema da má formação. A cada ano, o Brasil ganha 17 mil novos psicólogos. Muitos saem de faculdades pouco prestigiadas, não fazem um curso de especialização num método ou num distúrbio e mesmo assim abrem seus ouvidos para tratar das razões individuais do ser humano – talvez o objeto de estudo mais complexo que existe. Além disso, terapeutas também têm seus problemas emocionais, que podem resvalar para o paciente. Nem todos mantêm uma necessidade básica: sua própria terapia. “Como é possível uma pessoa guiar os outros num exame das estruturas profundas da existência sem examinar a si mesmo?”, questiona Yalom. Entre os resultados da falta de análise do terapeuta, está o de seduzir ou deixar-se seduzir pelo paciente. Não raro terapeutas mal analisados têm relacionamentos amorosos com clientes.
“Se fôssemos submeter terapeutas a um controle estatístico, poucos sobreviveriam”, diz o neurocientista Sabbatini. Mas, como grande parte do sucesso do tratamento depende de quem está se tratando, é muito difícil avaliar um terapeuta. Para o profissional, fica fácil culpar o paciente pela ineficácia das sessões. Diante disso, faz sentido a metáfora que o psicólogo clínico americano Scott Miller usa para falar do paciente: cliente herói. “Quer o terapeuta funcione ou não, depende do cliente, e de suas habilidades heróicas, levantar-se contra as coisas horríveis que lhe aconteceram”, afirma ele.
A terapia no futuro
A falta de certeza do tratamento pelo menos tem uma vantagem: exigir terapeutas cada vez mais focados em resultados, que usem técnicas mais científicas para descobrir o problema do paciente. “No futuro, talvez possamos diagnosticar os transtornos através de exames de neuroimagem”, diz Landeira-Fernandez.
Na hora do tratamento, uma das tendências é que cada vez mais os profissionais se especializem no distúrbio e não numa doutrina intelectual. Um exemplo é o trabalho do psicólogo clínico Albert Rizzo, da Universidade do Sul da Califórnia. Bancado pelo Exército americano, ele adequou a terapia cognitivo-comportamental a um game de guerra e vem tratando soldados que sofreram traumas no Iraque. “Jovens acostumados à realidade virtual, eles se sentem incentivados a voltar aos eventos da guerra pelo computador”, diz Rizzo.
Mas também existe a tendência oposta: que algumas correntes fiquem ainda mais distantes da ciência e próximas da filosofia, criando sessões onde a cura seja um fator secundário. “Vivemos questões existenciais que acompanham o ser humano há séculos”, diz o filósofo Lúcio Packter, pioneiro da filosofia clínica no Brasil. Não à toa, o psiquiatra Irvin Yalom dedicou o livro A Cura de Schopenhauer aos filósofos clínicos – que ele chamou de terapeutas do futuro: “Nós [os psicólogos] fazemos parte de uma tradição que remonta não só aos nossos ancestrais imediatos da psicoterapia, começando com Freud e Jung, e todos os ancestrais deles – Nietzsche, Schopenhauer, Kierkegaard – mas também Jesus, Buda, Platão, Sócrates, Galeno, Hipócrates e todos os outros grandes líderes religiosos, filósofos e médicos que se ocuparam de cuidar do desespero humano”. Uma venerável agremiação.
10 grandes linhas do autoconhecimento
Desde que Freud inventou a terapia pela palavra, seu método foi questionado, derrubado, reerguido e reformado. Hoje, sua influência está dispersa em centenas de correntes – algumas mais, outras menos freudianas. Veja abaixo como 10 grandes linhas da psicoterapia funcionam.
Alta influência de Freud
Psicanálise
O analista acredita que os problemas vêm de impulsos reprimidos na infância do paciente, que passa a maior parte da sessão falando por meio de associações livres. O terapeuta geralmente fala pouco, sem emitir juízo, tentando analisar a fala e os sonhos. Modelo mais antigo, foi ampliado e modernizado com os estudos de Jacques Lacan (1901-1981).
Psicanálise junguiana
Também chamada de psicoterapia analítica, foi criada por Carl Jung, discípulo de Freud, que introduziu na psicanálise o conceito de inconsciente coletivo – as imagens e as experiências comuns a todos os seres humanos. Por isso, o método junguiano leva em conta, além das questões individuais do paciente, as influências externas e coletivas que podem atormentá-lo.
Psicodinâmica
Chamada de psicanálise light, baseia-se em noções tradicionais da psicanálise, só que é mais breve, com o terapeuta tentando ativamente engajar o paciente em um diálogo que o faça reconhecer e resolver conflitos antigos. É também mais focada para atingir objetivos concretos preestabelecidos entre paciente e terapeuta.
Média influência de Freud
Gestalt
Usando o teatro e outras expressões artísticas, explora técnicas dramáticas para construir pensamentos e atitudes criativas. Com blocos de espuma, bonecos ou almofadas, o paciente é encorajado a adotar novos papéis e expressar sentimentos, com o objetivo de compreendê-los melhor.
Terapia de grupo
Abriga teorias e práticas de outras correntes, com a diferença de ser praticada em grupo. O convívio com os outros pacientes funciona como um microcosmo social – um ambiente seguro para um novo comportamento. É indicada para quem sofre de problemas comuns do seu ambiente e tem dificuldade de se relacionar com os outros.
Interpessoal
Recomendada a quem passa por depressão leve ligada a conflitos pessoais, luto ou mudança repentina de papéis (um casamento ou um novo cargo profissional). O tempo da terapia é predeterminado, e as sessões se concentram no tempo presente, sem ligar experiências atuais ao passado.
Centrada na pessoa
Foca na relação entre paciente e o profissional. Sem interpretar pensamentos e comportamentos, o terapeuta cria um clima de empatia que permite ao paciente explorar questões que o perturbam e desenvolver a auto-estima. Por isso, é indicada a quem se sente oprimido pelo mundo e tem baixa aceitação de si próprio.
Baixa influência de Freud
Terapia comportamental
Linha bem distante de Freud, é indicada para quem sofre reações indesejáveis do corpo diante de manias e fobias (como medo de aranha ou de avião). Utiliza técnicas básicas de aprendizagem, como exposição e condicionamento, na tentativa de trocar o comportamento usual por reações mais agradáveis. Para os críticos, esse tipo de terapia tenta fazer um adestramento do paciente.
Terapia cognitiva
Baseada na idéia de que “os homens se perturbam não pelas coisas, mas pela visão que têm delas”, como disse o pensador romano Epíteto (60-117). A terapia cognitiva tenta reconhece e alterar padrões de pensamento que incomodam o paciente, para ensiná-lo a vigiar idéias automáticas e corrigi-las. Indicada a quem sofre de depressão e precisa mudar o que pensa sobre si próprio.
Terapia cognitivo-comportamental
Utiliza técnicas das duas correntes ao lado para tentar fazer o paciente identificar pensamentos e crenças distorcidas que tem de si próprio. A idéia é fazer a pessoa perceber seus pensamentos e procurar corrigi-los, gerando novos padrões de raciocínio. Indicada para quem sofre de depressão, ansiedade e perturbações relacionadas a traumas.
O que é a depressão?
Depressão não é tristeza?
A teoria tradicional diz que a depressão é uma deficiência de serotonina – um neurotransmissor relacionado a funções como o humor, o sono e o apetite – e, para combatê-la, tudo o que os antidepressivos fazem é aumentar a quantidade dessa substância no cérebro. Mas duas questões nessa teoria intrigam os cientistas há algum tempo. A primeira é que, pouco depois de tomar esses remédios, o cérebro já está cheio de serotonina e, no entanto, nada acontece. O segundo é que os efeitos esperados só vão aparecer um mês depois. Um mês é exatamente o tempo que o cérebro leva para produzir novos neurônios e fazê-los funcionar. Foi daí que se suspeitou que existe uma relação entre a depressão e a queda na produção de novas células no cérebro.
Outros indícios reforçaram a hipótese: o estresse – um dos principais fatores que desencadeiam a depressão – também inibe a neurogênese, como se o cérebro estivesse mais preocupado em sobreviver ao fator estressante que em produzir neurônios para o futuro. Mas a primeira evidência concreta veio em 2000, quando cientistas americanos mostraram que os principais tratamentos antidepressivos aumentam a neurogênese em ratos adultos. No ano seguinte, percebeu-se também que bloquear o nascimento de neurônios em ratos tornava ineficazes os antidepressivos. Agora a esperança é encontrar uma forma de estimular a neurogênese e, com isso, aliviar a depressão. Ao que indicam esses estudos, essa doença pode não ser só um estado de tristeza, mas, sim, o efeito da falta de neurônios novos e da conseqüente perda da habilidade de se adaptar a mudanças.
(Selma)