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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobre Religião

Confesso que durante a minha infância e adolescência  o fator religião chegou a me preocupar. A escola onde fiz os primeiros quatro anos do ensino fundamental no interior de São Paulo era uma das melhores da cidade e meu pai fez questão de me matricular lá. O problema era que sofria certa pressão da religião católica, visto que o irmão do diretor da escola era padre na cidade.


As professoras presenteavam as crianças que diziam ir à missa todos os domingos. Minha família se dizia Espírita e realmente frequentávamos o Centro Espírita da cidade, que na época era dirigido pelo Sr. Celestino, uma pessoa maravilhosa, de extrema bondade.
Meu pai sempre me ensinou a ser correta e a não mentir, mas para frequentar aquela escola eu acabava mentindo, dizendo-me católica. Confesso que esse fato não me agradava muito. E para ganhar presentinho da professora, e não ser diferente das outras crianças, era também necessário mentir, dizendo ter ido à missa.


Eu e meus pais íamos algumas vezes ao Centro Espírita. O passista era o “Seu” Celestino, que também proferia uma bela oração na abertura e no fechamento da reunião.  Meu avô materno já havia desencarnado nessa época, e havia deixado uma coleção enorme de revistas e  livros Espíritas. Algumas revistas com fotos já da famosa Irmã Josefa.


Quando adolescente, por volta dos 12 anos, resolvi freqüentar a Igreja católica. Todos os domingos comparecia com minhas amigas. Mas comecei achar tudo aquilo muito vazio,  por mais que me esforçasse...  Não concordava em confessar, contar meus pecados para um padre, mesmo diante das afirmações dos outros que diziam ser o padre “representante direto de Deus”. Como era ele representante direto se era humano, se era homem?

Comecei a questionar o porquê de tanto sofrimento dos “santos”. Não havia imagens de santos sorrindo, só sofrendo. Jesus não deveria ser representado na cruz, com a imagem do sofrimento. Não conseguia entender a segunda parte da  Ave Maria que diz “Santa Maria mãe de Deus”... Afinal, Maria era mãe de Jesus ou de Deus?  Na oração do Credo, a explicação era diferente, falava-se em Jesus Cristo como único filho de Deus e não que Maria era mãe de Deus. Eram milhões de dúvidas e nenhuma resposta. Qualquer tentativa de querer saber mais era interpretada como “pecado”.


Resolvi, então, aos 17 anos tornar-me Espírita, pois era essa a religião proclamada pelos meus pais. Comecei a frequentar a mocidade Espírita de minha cidade, no mesmo Centro Espírita que frequentara quando criança. Confesso que me sentia mais feliz, sem necessidade de confissões, sem a ameaça de cometer pecados. Não tinha mais medo da Irmã Josefa e dos espíritos materializados pelo Chico Xavier. Comecei a ler todos os seus livros.


Depois de algum tempo conheci o Serginho, que não morava na mesma  cidade, mas vez ou outra comparecia na nossa Mocidade Espírita. Era falante e tocava violão. Todos gostavam quando ele comparecia nas reuniões, que ficavam muito animadas com música. Nos interessamos  um pelo outro e sempre que possível estávamos juntos.
Um dia encontrei o Serginho triste e solitário em um canto. Fiquei preocupada e quis ajudá-lo. De tanto insistir,  acabou me confessando:

“Olha, meu Espírito Protetor me falou que em outra encarnação eu fui um padre da Santa Inquisição e mandei muita gente para a fogueira. Isso está me aborrecendo muito e estou sofrendo com isso. Minha vida está uma droga.”

Ai meu Deus!

 
Depois disso resolvi sumir por uns tempos do Centro Espírita. Serginho me procurou umas duas vezes, mas eu não falei com ele. Preferi ficar na minha. Nunca mais o vi.



Religião é algo muito bom na vida da gente. Traz paz, conforto e serenidade.
 Mas penso que é algo muito pessoal e intransferível.



"Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti."
 (Friedrich Wilhelm Nietzsche em "Para Além do Bem e do Mal")


(Selma)

Um comentário:

  1. ººº
    eu "fiquei sabendo" que fui devota de Vênus e Eros,há muitos séculos,numa nação de hábitos refinados.
    Isso explica meu vínculo com a natureza,com as questões amorosas-em todos os sentidos,e o quanto as manhãs e tardes me comovem.

    Sabi(am) que eu consegui contar vinte pontas na estrela Vênus,que na verdade,é nosso vizinho planetário?
    Todo mundo só consegue ver cinco pontas nela.

    (ou nele,pois ele é planeta)

    Um dia,eu voltava para casa,depois de uma chuva pesada.
    O cheiro de damas da noite permeava o ar.
    Um arco-íris fora do comum,riscava o céu.
    Ele foi apagado quando eu cheguei em casa.

    Considerei isso,um antigo auspicio da deusa que inventou a civilização,bem como a todos os sofismas sagrados de todos os santos.

    Agora,como Nihil, sentimentalmente,já me tornei budista em agosto de 1.980,aos quinze anos.
    Mas oficializei o refúgio,que é o batismo na nossa religião,aos trinta.

    Hum,ainda estou pensando em que crônica vou mandar para o concurso literário de Jundiaí.

    Uma boa noite aos que "viram".

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