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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

36 argumentos para a existência de Deus (ou contra...)

Em entrevista ao site de VEJA, a "ateia com alma" Rebecca Goldstein critica o radicalismo de crentes e descrentes e comenta seu novo livro, uma saborosa "cilada" para os fanáticos de ambos os lados

(Marco Túlio Pires)
"Os ateus têm que acabar com o pedantismo. Eles não têm que ensinar como as pessoas religiosas devem pensar"

"As pessoas religiosas têm que parar de pensar que ateus são imorais e não sabem a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado"


Uma ateia em missão de paz. É assim que Rebecca Goldstein, doutora em filosofia pela Universidade de Princeton e pesquisadora na área de psicologia em Harvard (EUA), se posiciona nas discussões, sempre acaloradas, entre ateus e religiosos.
Em seu novo livro, 36 Argumentos Para a Existência de Deus (Companhia das Letras, tradução de George Schlesinger, 536 páginas, 59 reais), Rebecca faz uma crítica ao radicalismo de ambos os lados. E um convite à conciliação. "Ateus têm que deixar o pedantismo de lado e parar de dizer como os religiosos devem pensar", diz ao site de VEJA. "E religiosos têm que parar de pensar que ateus são imorais e não sabem a diferença entre o bem e o mal."


Mistura de romance, ensaio filosófico e divulgação científica, 36 Argumentos... é uma saborosa provocação - para crentes e descrentes - dividida em duas partes. Na primeira, conta a história do "ateu com alma" Cass Seltzer, um psicólogo subitamente famoso por causa de um livro em que refuta... 36 argumentos sobre a existência de Deus. Ao final da aventura de Seltzer, que inclui experiências transcendentais, um apêndice reúne os 36 argumentos e os desmonta, um a um, com base em razões da biologia, astronomia, geologia, matemática, filosofia...


A tensão entre a parte ficcional e os argumentos científicos faz de 36 Argumentos... uma divertida cilada para fanáticos de ambos os lados. "Incluí os aspectos emocionais da discussão filosófica no formato de romance para servir de contraste ao apêndice", diz Rebecca. "Ao final de tudo, uma nova visão pode emergir do encontro entre esses dois lados antagônicos." Confira abaixo a entrevista:


De que Deus a senhora fala em 36 Argumentos...? É o Deus das religiões abraâmicas - Judaísmo, Cristianismo e Islamismo -, que tem três características principais. Primeiro, esse Deus existe fora do espaço e do tempo e decidiu criar o mundo e as leis da natureza a partir do nada. Segundo, ele tem um interesse moral nesse mundo — na diferença entre o bem e o mal, naquilo que devemos ou não fazer. Por fim, esse Deus interfere nesse mundo por meio de revelações, escrituras ou milagres.




A senhora acredita nesse Deus que acabou de descrever? Não. Penso que podemos estabelecer moralidade sem teologia. Mas amo a definição de Deus do filósofo holandês Spinoza (1632-1677). Ele admite experiências transcendentais, mas não as justifica a partir da existência de um Deus abraâmico. Para ele, Deus e a natureza — o próprio universo — são a mesma coisa.
É possível ser um "ateu com alma", como o personagem principal de seu livro, o psicólogo Cass Seltzer? Sim, é possível. O que faz de Cass meu herói ateu é que ele se mostra aberto a experiências transcendentais. É esse amor pelo universo que se expressa tão facilmente como religião. É aquela sensação grandiosa, magnífica, difícil de verbalizar, que às vezes nos toma completamente. É o combustível da grande arte, por assim dizer. É algo que o mundo secular não consegue traduzir ainda. Mas isso é porque o idioma religioso está pronto. A humanidade está há milênios exercitando essa linguagem. Já a tradução secular dessas experiências ainda está sendo desenvolvida.


Existe alguma explicação racional para essas sensações transcendentais? Não acho que entendemos o suficiente a mente humana — ainda — para explicar por que somos capazes de experimentar essas coisas grandiosas. É uma área misteriosa. Contudo, não acho que isso coloque o ateísmo em contradição.

Em que diferem as experiências de ateus e religiosos? Filosoficamente, penso que temos muitas personalidades. Quando estamos lidando com questões que estão além de uma resposta definitiva, como a existência de Deus, então nossa 'personalidade filosófica' entra em cena. É a maneira como encaramos o mundo, a forma como nos orientamos. Algumas pessoas escolhem canalizar suas experiências transcendentais em termos religiosos. Outras, em termos seculares. Seja qual for a decisão tomada, precisamos considerar as limitações dos dois lados. Os seculares precisam entender os limites da ciência e tolerar os mistérios. Já os religiosos, que a ciência pretende dar respostas honestas sobre a natureza e não deturpá-la.


Existe um meio-termo? Com certeza. Mas primeiro os ateus têm que acabar com o pedantismo. Eles não têm que ensinar como as pessoas religiosas devem pensar. Isso é revoltante e tem que parar. Além disso, as pessoas religiosas têm que parar de pensar que ateus são imorais e não sabem a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado. Isso é falso - existe toda uma filosofia moral que fez muito bem ao mundo e nos tirou da idade das trevas, por exemplo. Quando os dois grupos deixarem de fazer essas coisas, será ótimo. As pessoas poderão ver que o modo como enxergam o mundo é muito semelhante. Se você é religioso, tente se aproximar de um ateu e entender, sem reservas, como ele enxerga o mundo moralmente, independente de suas convicções fundamentais. Se for ateu, faça o mesmo com uma pessoa religiosa.


O seu livro seria então uma tentativa de pacificar o debate? Com certeza. E as reações das pessoas têm sido muito agradáveis. Tanto de pessoas muito religiosas quanto de ateus fervorosos. Acredito que isso acontece por causa da maneira como apresento os elementos desse debate. A ficção, nesse caso, é sorrateira. O romance é capaz de seduzir pessoas de ambos os lados e superar o preconceito. Ateus e religiosos acabam achando pontos em comum e no fim percebem que concordam mais do que discordam sobre o mundo.

Por que misturar a forma do romance com um apêndice científico? O apêndice do livro mostra como eu penso. Eu queria que ele exercesse uma tensão na história que o precede. É uma forma honesta de mostrar os argumentos mais comuns a favor da existência de Deus e as falácias de cada um deles. Já o romance retrata a emoção que envolve esse debate. A emoção raramente está presente nesses debates justamente por ser tão complicada de retratar. Isso depende do modo como vemos o mundo, as decisões que tomamos, nossa experiência de vida e assim por diante. Tudo isso fica fora das discussões filosóficas sobre a existência de Deus. Contudo, incluí a emoção no formato de romance para servir de contraste ao apêndice. Ao final de tudo, uma nova visão pode emergir do encontro entre os dois lados antagônicos.


Alguns ateus consideram pessoas religiosas intelectualmente inferiores, e alguns religiosos consideram imorais os ateus. Qual a sua opinião? É algo muito, muito triste. As duas afirmações são falsas. Venho de uma família judaica muito religiosa. E muitos de meus parentes religiosos são muito mais espertos do que eu, que sou ateia. Por isso, sei que experimentar o mundo de um jeito religioso e colocar essas sensações na linguagem religiosa não é um sinal de inferioridade intelectual.


Onde a senhora acha que esse debate irá nos levar? Espero que o debate seja respeitoso e honesto. Que as pessoas consigam encontrar as semelhanças e trabalhar a partir daí. A civilização é tudo o que temos.

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/36-argumentos-para-a-existencia-de-deus-ou-contra#Pergunta 7


(Selma)


6 comentários:

  1. O Hosaka crê em Deus porque tem um medo danado de morrer e se bórra todo nas calças. Mas, quem não tem um medo danado de morrer não precisa de papais e mamães do céu, ou coisa que o valha ! Ardendo muito aí , Hosaka, com essa baixa umidade ? ...hehehe

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  2. Quando o Teacher,para eu,ainda era uma novidade, tentei por em prática o ateísmo dele.
    Fiz essa experiência emotiva por duas horas.
    Julgo ter entendido que o ateu,é aquele para quem o "superego freudino" não é uma instância exterior,mas interior,ou seja, o imperativo de si mesmo,é ele mesmo.
    Posso estar enganada,mas tive essa impressão.

    Também, ao fim da pequena experiência, perdi o interesse artístico por dois dias.
    Não sei ao que atribuir isso,porque alguns ateus são dedicados às artes.
    Ferreira Gullar,por ex,é poeta.

    Naquela fase em que também,mesmo sem tentar bancar a atéia- comecei a assimilar alguns pensamentos dessa galera, devido à novidade da amizade com o professor,e o Amaral, -ao final de uns meses,me percebi "menos esperta"- o que indica que a redução do medo básico - o qual por outro lado,estimula o êxtase, nos torna um tanto convencionais em demasia.

    Os neurônios do ateísmo e do deísmo, provavelmente existem,e são específicos.
    Acho que tenho "os dois conjuntos",mas acabei privilegiando os do "deísmo".
    A segunda atitude,em meu "modo de ver" oferece mais vantagens.

    Mas, eu gostei da segurança de algumas dessas pessoas,e invejei o equilíbrio nelas, que eu reproduzi em mim,por um tempo,e que me fez bem.

    Todos tem a colaborar bastante, ateus,não ateus,gregos, paraguaios, contravocês,adilsons,etc,etc.

    (hohó!)

    Peraí!
    Agora eu fui reparar que essa será minha "tripitaka 232".

    A "tripitaka 233" , eu vou postar aqui,e será alguma postagem engraçada.
    Isso para compensar meus esquecimentos sobre as outras séries.
    Perdi a chance de fazer isso com o Turbilhão 233, com a Encrenca 233, com a carpideira 233, etc,etc.

    Até maisão a todos. (hahaha...)

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  3. Boa Noite, Sr Joséph,

    Eu sempre tive um medo danado de morrer, mas não fui eu que inventei Deus, ele estava há muito tempo por aí.

    Eu me simpatizei com a ideia católica de Deus, segundo o qual reza que todo crédito pertence a quem merece, é dando que se recebe.

    O meu principal argumento de que Deus existe é cartesiano. Se nós católicos existimos, logo Deus também existe, pelo invocamos verbalmente o seu nome nas missas. Isso não depende do meu medo danado de morrer. Não fui eu que inventei a missa.

    Tinha um professor histérico lá no GD que a todo momento pedia pena de morte aos bandidos. Isso sim que é medo danado de morrer. Pelo menos eu sempre me preocupei em mudar o formato das minhas mensagens, mostrando que é possível combater os crimes mais violentos do mundo se aprendermos a valorizar a nós mesmos, o que temos de bom dentro de nós, e de lá conquistar a simpatia de Deus.

    Já o desejo doentio de querer matar bandidos, isso também não era ateismo. O professor valorizava a ciência, o esforço coletivo de procurar soluções mais práticas do nosso dia a dia como combater a diabetes e a corrupção. Mas há questões que são complexas demais, e a oração é um remédio antigo. Talvez Deus não escute nenhuma de nossas orações, mas pelo menos ficamos com a consciência tranquila de que tentamos.

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  4. PENA DE MORTE e PRISÃO PERPÉTUA! Lugar de bandido é no fundo da cadeia, ou estrebuchando na ponta de uma corda!! Não se preocupe - quem não deve, não teme! Olá, Hosaka, muita ardência nesse teu turbulento rabão ? hehehe

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  5. Será que o japa pede à defunta, se é que existiu, Teresa de Ávila para consertar seu computador porque acha que ela sabe fazer coisas que deus não sabe?
    Não errei, escrevi deus com minúscula mesmo, porque o deus católico é uma piada. Comentei no fórum UOL que o deus católico era um empregadinho de uma defunta, visto que levava a ela os pedidos dos católicos. Uma catoliquinha pateta que aparecia de vez em quando disse que era assim mesmo.
    Por isso eu jamais poderei ser católico, pelo menos enquanto um câncer cerebral não tirara 90% do meu QI.

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  6. O Hosaka crê em Deus porque tem um medo danado de morrer e se bórra todo nas calças. Mas, quem não tem um medo danado de morrer não precisa de papais e mamães do céu, ou coisa que o valha ! Ardendo muito aí esse teu rabicó de cabeça de porongo seco ? ...hehehe

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