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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ecos de Gandharva- mala nihil

O presente texto será uma continuação de uma série iniciada em dezembro,com a crônica "Ecos longínquos"- à qual se seguiram "Ecos distantes" e "Guardião das Sombras". Não tenho certeza se eu escrevi aqui mais textos relacionados.

Eles não estão sendo uma reencetação do romance "Quase um Brâmane",mas estão sendo reflexões sobre as aventuras dele,e sobre minhas aventuras metafisicas.
Se essa série continuar,ela vai acabar tendo o nome de  "Sotonenses".

Pobre sr.Hosaka. Ele teve medo desse nome. Mas esse nome será só de uma coleção de crônicas sobre minha "vida interior".
Eu nunca pensei em usar esse título para falar de alguém, a não ser se eu tratar o personagem como um mero agente das minha impermanência.
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Eu suponho que o Angulimala,após ter sofrido por uns dez anos,por remorso, no final de sua vida,- tendo morrido- e tendo jogado fora propositadamente as "chaves do nirvana", acabou reencarnando em seguida como um monge que viveu na dinastia maurya lá na India, no período em que a nação foi invadida pela Grécia, e em que ele acidentalmente, acabou travando conhecimento com o imperador mauryo, Ashoka.
No conto que eu escrevi para o ex-gd do Terra, eles já se conheciam de longa data,  e um gatinho(kk...) os reaproximou-depois de anos de separação,por causa da incompatibilidade de ideais de vida.

Ashoka tentou fechar Samudra, que tinha ido ao palácio para tentar fazê-lo parar de matar todo mundo que o procurava para alguma coisa- Ashoka tentou fechar Samudra num jardim onde havia um poço de fogo.
Se o monginho não caísse lá dentro, ia morrer em consequência do intenso calor que ele sofreria nas bordas do poço.
Claro que Ashoka estava louco, e o que me faz supor que Samudra foi Angulimala reencarnado,foi sua habilidade para controlar um psicopata bem semelhante ao que foi esse outro personagem, que havia vivido uns trezentos anos antes.
Afinal,para sabermos como lidar com certas pessoas, temos que ter tido antes a experiência de termos sido como elas, ou de nos termos sentido- provisoriamente,como elas se sentem.

O que mais monginho e facinora antigo tinham em comum?
O monginho gostava muito da natureza,mas não se pode esquecer que como Angulimala -ele viveu junto dessa natureza.

Eu,pessoalmente, amo as orquideas, e tenho uma certa intuição para fugir de sociopatas,ou para interagir com eles,sem levar a pior,portanto,parece que eu fui "Samudra/Mala"   (hohohó!)

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A minha dúvida é a causa do heroísmo do Samudra ,que não teve medo de ser morto pelo amigo dele, e que ainda por cima,ficou tão encantado com um poço de fogo...(horror...fiuuuuuu...)

Minha suposição é de que a vida dele naquele tempo devia ser tão chata, que  ele tinha  e cultivava apenas dois interesses:
-o céu além da vida, e os jardins.

Ora- eu não vejo como a vida em tempos antigos poderia ser tão boa assim, e vai saber se os indianos não se deixaram invadir em seu território pelos gregos,inconscientemente,levados pela necessidade de que uma boa briga justificasse a existência,e eu espero não estar falando muita bobagem,se eu for lida por algum indiano,eu peço desculpas por essa opinião.

Às vezes eu me sinto assim como  o monginho pode ter se sentido, e é quando me dou conta de que só o prazer,ou a promessa do prazer- licito, e com saúde- justifica a vida.
O que fazemos quando não estamos seguros de nossas perspectivas, e quando a vida é uma sucessão interminável de contas a pagar, isso quando não ocorrem infortunios ,nem calamidades?
Sem nossos deveres,sobra o que de nós?

Eu aderi ao budismo no passado, devido à promessa implicita no mesmo de algum dia eu poder viver um êxtase efetivo, definitivo e impertubável, num estado de perene serenidade em meu futuro.
Dele me levar  a isso.
Porque se não for pela religião que eu alcançar esse êxtase,eu vou virar orquidófila, com certeza, e mesmo assim,me manterei religiosa.

O objetivo da vida é a realização.
Mas, não estou ainda a fim de falar nos aspectos educacionais e culturais que orientam a satisfação com o que fazemos e nossas vocações.
Estou salientando a importância da religião nisso.
E admitindo que mesmo tendo estado bem intencionado,sri Santinho não acertou em tudo.
A vida não pode ser o ascetismo laico que ele tentou ensinar,ou ninguém teria mais pique para nada- pois o cérebro só reage bem à promessa do encanto.

Eu sigo os ensinamentos dele, justamente por causa daquilo ao qual ele se opôs,mas que eu acho que no dharma dele,é mais fácil de alcançar, que é um tipo de prazer ao modo de Epicuro,que não foi nenhum hedonista,como muitos pensam.

Angulimala não conseguiu ter qualquer alegria real em vida, antes de conhecer o mestre.
Sua vida era "pagar contas" e viver para as compulsões.
Quando ao menos suas refeições diárias melhoraram,ele começou a ver que viver,também era se relacionar direito com as pessoas, e obedecer as regras sociais,pois elas -incrivelmente- libertam-nos bem mais do que supomos. Quando cumprimos regras,vivemos o pressuposto de que vamos ser respeitados também.

Vcs já imaginaram o que deve significar para alguém trabalhar o tempo inteiro, para depois perder sua casa numa enchente- imaginar que sempre apenas errou em tudo,ver perdidos os seus esforços,não conseguir ser bom nem prá si nem para ninguém, isso após uma vida trabalhando mesmo em ocupações indesejáveis- para depois saber que irá reencarnar,para passar por tudo de novo?

Acho que nossas idas e vindas no mundo, só poderiam se justificar pela busca da felicidade pessoal e especifica.

O restante para eu, por vezes, não passa de vício mecânico,de morbidez ou de masoquismo.
Melhor seria morrer no inferno das flores.°
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Desculpem por esse tema.
Estou meio emotiva nesses dias,por outras razões,mas isso teve o lado bom de me levar de volta  ao tema religioso nesse blog.

Bom almoço aos que leram.

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Um comentário:

  1. O Apocalipse não interessa aos homens porque eles não têm medo daquilo que nunca acontecerá. Seja ateu e não pato! Religião é, junto com a política, um instrumento de exploração e dominação!

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