Páginas

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ao morto, todas as honras... e nenhuma atenção!

Velório é uma cerimônia fúnebre em que o caixão do falecido é posto em exposição pública para permitir que parentes, amigos e outros interessados possam honrar a memória do defunto antes do sepultamento.

Foi isto o que encontrei quando procurei a definição da palavra Velório.
Honrar a memória inclui contar piadas e fazer fofocas?

Não sou adepta de certas formalidades, de certas obrigações sociais. Pelo contrário, fujo delas sempre que posso e quanto a ir a um velório, sempre pude, até três dias atrás.

Não tenho nada contra, nem medo, nem nada, só acho besteira esse encontro que poderia ter acontecido quando ainda todos estavam vivos e bem.
Como dizem, fiquei passada.

Era noite, me preparei para a cerimônia, já pronta pra chegar no local e rezar pelo morto, afinal, nunca participei ativamente de um velório, mas em minha cabeça, quando se vai lá, dever-se-ia fazer preces e silêncio.

Qual não foi minha surpresa quando ao chegar, fui recebida com certa alegria. Ninguém chorava, ninguém rezava, ninguém velava o morto.
O conversê era geral.

Ocupei um lugar próximo à viúva, pois me pareceu mais oportuno e menos barulhento. Ledo engano. A conversa também corria solta e o que é pior, com cheiro de cana.

Num dado momento, a conversa se voltou pro meu lado e pro lado do meu marido. Uma senhora, que não posso dizer distinta, puxou uma conversa com meu marido e, eu que me encontrava desafortunadamente entre eles, recebi todo o bafo de cachaça possível numa madrugada fúnebre.

Um outro interessado, que se sentava do outro lado da sala, passava pelo mesmo infortúnio. Pois ele tentava prestar atenção na conversa do marido desta senhora não tão distinta assim, mas que parecia ter entornado mais que a própria.

Meu estômago revirava, afinal, quatro da manhã e eu não tinha me preparado pra esta tragédia. Arrumei uma desculpa e deixei meu marido a sós com a tal senhora. Fui respirar um pouco e me sentei perto de outros membros da família.

E parentes continuam chegando.
Resolvi tentar entender aquele circo.

Chega uma moça, que não reconhece seu primo e passa sem ao menos dizer boa noite. Apenas balançou a cabeça com um sorriso amarelo. Seu irmão, que parecia mais antenado, cumprimentou a todos os que conhecia e aos que não tinha muita certeza de conhecer. Mas, cumpriu o protocolo da boa educação.

E entra outro primo que também cumprimenta um, pula outro e assim vai, cumprimentando que lhe desse na telha.

Eu ali era um peixe fora d’água. As vezes que tentei fazer uma oração, fui interrompida com alguma gracinha ou piada. E o pior... tinha de rir, pois eram procedentes de membros da família do morto.

E as horas passavam, numa velocidade de tartaruga.

As piadas não acabavamm e quando percebi, já eram contadas por alguém que se colocou ao lado do caixão, numa distância aproximada do ouvido do morto, de 30 cm.

No local havia uma capela, com as portas fechadas. Afinal, já tinha dado pra perceber que se estivesse aberta, provavelmente, ninguém entraria ali, afinal, uma capela pede silêncio.

Ouvi da viúva que agora poderia passear e aproveitar mais a vida.
Nisso o dia já dava sinais de vida e o casal da cana, que eu nem vi sair, já voltava e ele conseguiu um bar aberto e voltava totalmente alegre e retumbante. Outros reclamavam do café, que estava muito doce.

A prima que não reconheceu o primo, volta e se desculpa. Aproveita depois pra ficar por perto e rindo muito. A mãe dela diz que a filha quando fica nevosa ri sem parar. Nervosa com que? Porque perdeu o tio? Nem ao menos reconheceu o primo, meu Deus!

Fui respirar em casa, tomar um café e voltar pro tal velório, que, no retorno, já estava bem mais divertido e interessante. Aí já se via crianças (acho um extremo mal gosto levar crianças e estes eventos) correndo e colocando moedas na máquina de refrigerantes e de salgadinhos.

Nenhuma prece, nenhum choro... NADA. Nada que indicasse que alguém estava ali pra homenagear o morto ou honrar sua memória.

Chegam outros primos, que preferiram dormir um pouco mais, afinal, num domingo, levantar cedo ou passar a noite ali, ninguém merece...

E mais uma prima que não cumprimenta ninguém. E um primo estranho, com cara de sono, que mais parecia ter saído de um filme de terror.
O riso já não era contido.

E eu, que tinha um conceito formado sobre um velório, vi que preciso me inteirar mais dessas reuniões, afinal, poderia esta pagando um mico por achar que ali fosse um lugar sério e que o silêncio, o respeito e a prece fossem necessários.
Que triste!

Quanta pobreza de espírito!
Enfim, pouco antes do sepultamento, um Senhor tomou a frente e resolveu fazer uma oração.

Aí, corre daqui, corre de lá, juntam-se filhos, netos e afins para participarem do ato solene. Juntam-se todos em volta do caixão e, finalmente, a viúva deixa cair alguma lágrimas.

Tudo acabado.
Segue-se até o cemitério, também chamado de “a última morada” por alguns. Enterra-se o corpo com certa pressa, afinal, um sol dos infernos queimava os miolos já amolecidos dos que ali se encontravam, loucos pra que tudo terminasse e, finalmente, irem pra casa aproveitar o almoço e a tarde de um típico domingo de primavera com cara de verão.

Conclusão?
Acho que peguei o bonde errado.
Acho que entendi a frase de uma música do Silvio Brito... “PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER”!!!

E foi assim.

Ah! Uma das pessoas que nem ao menos percebeu a minha presença, que passou por mim como se eu não existisse, no outro dia me pediu pra adicioná-la no Orkut...

Pelo tanto que escrevi, talvez poucas pessoas tenham paciência para chegar até o fim.

As poucas que conseguirem, vão se perguntar o porquê desta postagem.
Só posso dizer que foi mais uma experiência que mostrou que o ser humano está muito longe do aceitável e que, como dizia o personagem Gilmar da novela "Escrito nas Estrelas": Humanidade Podre!

(Solange Grignolli - do  Fórum Espírita - link no canto inferior do blog que fica  à sua direita)


Copiei e colei aqui essa mensagem que está no Fórum Espírita. Achei interessante e verdadeira. Poderia ter sido escrita por mim, pois muitas vezes compareci a velórios e a situação foi exatamente a mesma. Isso acontece muito aqui em Minas, as pessoas comparecem em peso para um velório. Se houver necessidade ve "virar a noite" a situação fica mais complicada. Chegam pessoas com café, salgadinhos, refrigerantes... A ocasião é aproveitada para se colocar em dia os assuntos e as fofocas. As piadas rolam...
Minhas cunhadas contam que um dia foram  ao velório de uma tia em uma cidade distante. Não viam a hora do corpo ser sepultado para irem embora e parar para jantar em uma churrascaria que haviam visto no caminho de ida. Isso foi contado entre gargalhadas.
Bem, eu acredito em vida após a morte. Acho uma pobreza de espírito imensa esse desprezo pelo ser que morreu. Mesmo que ele vire apenas pó.

(Selma)

2 comentários:

  1. Bom dia à Solange, e à Selma.

    O último velório no qual eu estive, foi mais "convencional",mas vou contar superficialmente, como foi essa "convencionalidade".
    As pessoas estavam todas nervosas, iradas e se culpando mutuamente de deveres não cumpridos em relação ao morto.
    Eu só escutava tudo, não sentia nada, estava numa grande exaustão física.
    Houve uma ameaça de briga física- e mais acusações.

    Quando o caixão baixou à sepultura, foi que eu chorei.

    Suponho que os sentimentos ali presentes eram muito intensos, ou que não havia sentimento nenhum, e que tudo o que aparecia, era um disfarce para desviar a atenção da falta de pesar que se sentia por quem desapareceu.

    Atualmente, fico pensando em quão valiosas são as carpideiras,aqueles profissionais pagos para dar um "clima" aos velórios dos ricos.
    Eu estou falando sério,pois muitas vezes, todo mundo demora para perceber quem morreu, quem nasceu,ou com quem casou.

    Vai se dar conta da realidade muito tempo depois dela ter começado a existir.

    ResponderExcluir
  2. Outra história.

    Em relação a um casamento.
    Não,nada de errado com o casamento ao qual eu fui, os noivos, e todos estavam felizes.
    O padre, inclusive, não falou tanto(como é hábito entre os clérigos)

    Na frente da igreja católica- era noite, alguém passou correndo e quase me derrubou na calçada. E ainda saiu reclamando, dizendo algo como "acordaa...olha onde você está..."
    Eu tinha o direito de estar ali, ele é quem não podia passar correndo na frente de uma igreja e de um teatro,especialmente numa hora em que uma multidão de pessoas estava reunida para ver um casamento, e em que outra multidão estava reunida para ver uma apresentação qualquer,no teatro.
    A desculpa de que ele não conhecia o lugar não era válida, pois só passa correndo por um local à noite, quem já é morador do "pedaço" e quem se sente confiante ali.
    Será que ele não sabia que as pessoas se reuniam ali naquela hora?
    Meu único erro, não foi estar ali,mas foi usar uma roupa escura que não brilhava, logo de noite, e por isso,não ser vista.

    Uma das coisas que foram me afastando desde cedo do cristianismo,foi o potencial de maus modos de alguns perto e dentro de igrejas católicas.
    Não sei se isso foi paranóia, mas nas imediações desses locais,foi onde eu mais vi pessoas agirem sem as ditas boas maneiras.
    Como se uma revolta inconsciente contra o cabrestro implicito na presença de uma igreja cristã nas redondezas, com uma cruz evidente, deixasse as pessoas livres para manifestar o pior que elas tem dentro de si.
    Tipo- "a igreja pressupõe que eu deveria ser um cidadão melhor,mas por desaforo,vai ser aqui,ou perto daqui que eu vou realizar a desforra."

    Vários anos antes, eu andei pelo mesmo bairro onde eu fui derrubada pelo inconveniente, em plena luz do dia, passeando à revelia debaixo de um sol extremamente quente, desesperadamente à procura de um templo budista cujo endereço eu tinha perdido- e mulheres tem um senso fraco de autodirecionamento em locais desconhecidos.
    Eu já tinha estado ali uma vez, mas não tinha a memória fotográfica do lugar, nem guia, nem gps, porisso, acabei me perdendo, e cheguei atrasada na cerimônia.
    Isso depois de subir um monte de ladeiras, e de perguntar a muitos onde ficava o endereço tal.

    Quando não quando, nesse mesmo bairro, de noite, sem estar procurando nenhum endereço, aparece alguém para me derrubar e ainda para sair gritando.
    Se eu estivesse procurando qualquer endereço de dia, que fôsse de um emprego, de uma escola,ou de uma outra igreja, eu não ia ter ajuda nenhuma, pois nesse tal bairro, nem os moradores conhecem alguma coisa dali mesmo.
    Mas, se é de noite, e se eu estou por ali, para atender a uma necessidade minha que eu já sei como atender, aparece quem não precisa, achando que as calçadas e as ruas tem que ser dele.

    Engraçado que eu sempre notei a frequência desses comportamentos perto de igrejas católicas, perto de cemitérios, e às vezes, até perto de hospitais.

    Acho que os interessados no cristianismo,deveriam tentar incutir no povo, uma idéia talvez mais simpática do cristianismo. Não sei se o cristianismo como foi apresentado às pessoas em todos os tempos, foi antipático, ou se ele perdeu sua moral coercitiva.

    (final)

    ResponderExcluir