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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Penso, logo Deus existe!

Olá pessoal,

[Tendo em vista alguns acalorados debates que houve neste blog, eu havia preparado o texto que se segue bem antes do final de outubro. Mas percebi que alguns conceitos não poderiam ser apreendidos com facilidade sem a apresentação de um quadro geral, o que foi feito com a postagem intitulada conjectura simplificada sobre o funcionamento do mundo. Agora posto o texto anteriormente preparado.]

Comecei este texto várias vezes pois, para variar, ele estava ficando muito mais longo ainda do que já ficou e abrangendo coisas demais. Recomecei para tentar diminuí-lo, mas ainda assim ficou grandinho (acho que até cresceu), pelo que peço desculpas.

Passei a frequentar este espaço virtual nos últimos dias e, em vista de circunstâncias, acabamos discutindo bastante sobre física e pouco sobre metafísica.

A minha intenção, ao entrar neste blog, era conversar sobre outras coisas, já que o Blog é de religião. Eu esperava que, se tivesse que ter discussões acaloradas, seria com ateus que desrespeitassem a teístas e deístas usando de sua auto proclamada superioridade científica, própria de adolescentes intelectuais que são, com sua típica (desta fase pós fraldas) arrogância e presunção de sabedoria. Que foi um pouco o que aconteceu com o 233fake.

Em seguida, houve uma troca de mensagens com mais participantes, em relação à maneira como cada um vê a física atualmente. Como ninguém é dono da verdade, cada qual expôs o seu ponto de vista de modo que, devido a alguns desencontros e à minha opinião pessoal não ser a mais aceita na comunidade científica (que é a única divulgada na mídia), chegou a haver alguma animosidade no debate.

Não era esta a ideia. Em resumo, o modo como eu vejo as coisas é um tanto diferente do que pôde parecer à primeira vista. Para começar considero que a única esperança da humanidade está no conhecimento, no esclarecimento, na civilização, no progresso, na luz, na Justiça, na igualdade, na fraternidade, na liberdade, na educação, nos bons modos, na polidez, no caráter, nos princípios éticos e outras coisas da mesma natureza, elevadas e nobres.

E, portanto, as suas antíteses é que seriam os nossos verdadeiros inimigos, fonte de todo o nosso sofrimento. Seriam a ignorância, o obscurantismo, a barbárie, o retrocesso, as trevas, a injustiça, a iniquidade, o egoísmo, opressão, a grosseria, a falta de educação, de modos e de princípios éticos, ou seja, as coisas de natureza torpe e vil.

Este tipo de coisas, torpes e vis, não é exclusividade de nenhuma nacionalidade, grupo, etnia ou ideologia, religiosa ou não. E nem o comportamento nobre e elevado. Há pessoas de todas as categorias, tendo ou não uma religião, que se comportam bem e pessoas que se comportam mal.

Há pessoas, de todos os grupos, extremamente polidos e honestos e também o contrário. Na minha humilde opinião, um dos fatores que ajuda a produzir o comportamento inadequado, que seria o que resulta em sofrimento e infelicidade, é o que eu chamo de pensamento materialista, seja a pessoa crente ou não na existência de um mundo espiritual.

Atualmente sou deísta (como Voltaire), eclético e ecumênico, e a minha verdadeira religião é a busca da Verdade e a tentativa de produzir uma sociedade fraternal. Mas nem sempre foi assim. Nasci em família religiosa, em seguira tornei-me agnóstico, depois ateu, materialista dialético e militante esquerdista (a fase adolescente é complicada).

Pois via muita injustiça no mundo, ninguém conseguia me explicar como um Deus justo podia permitir injustiça e, coroando tudo, a nossa avançada Ciência tinha explicações para o mundo sem necessitar de Deus.

A respeito disto já postei neste espaço, há alguns dias atrás, como comentário, um texto por mim postado nas salas de Filosofia e de Religião do UOL em 2003, o qual repito abaixo.

“Não pretendo realmente responder ou tentar responder a ninguém especificamente. A idéia seria tentar colocar a questão da existência e da natureza de Deus de outra maneira que não seja a fé ou crença, pois neste caso a discussão não teria fim. Tanto quem acredita na existência de Deus quanto quem não acredita faz a mesma coisa: uns têm fé na existência enquanto outros têm fé na não existência. Nenhum dos grupos pode provar nada para o outro.
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E também não poderíamos levar a questão para o lado do que está escrito em nenhum livro sagrado ou não, pois acreditar no que está escrito em qualquer lugar também é uma questão de fé.
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E nem seria uma questão de quantas pessoas acreditam ou não em algo. Isto não vai tornar este algo verdadeiro ou não. Em outras épocas praticamente a totalidade da humanidade acreditava que o nosso planeta era o centro do Universo. E estavam todas erradas.
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Olhando a situação de outra maneira, poderíamos afirmar que Deus poderia ser uma de duas coisas: ou ele seria a explicação do inexplicável ou seria o inexplicável da explicação. Uma das duas afirmações sempre será verdadeira.
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Assim, na primeira hipótese, em havendo algo realmente inexplicável no Universo, Deus seria a explicação para este algo inexplicável e portanto haveria a necessidade de sua existência.
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Já na segunda hipótese, como todas as coisas teriam explicação, apesar de ainda não a conhecermos em certa quantidade de casos, não haveria a necessidade da existência de Deus. Eu por muitos anos acreditei piamente que tínhamos explicações suficientes e razoáveis para tudo o que existia no universo, ou logo teríamos, era apenas uma questão de tempo. Logo, Deus não existe, c.q.d.
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>Há algum tempo, no entanto, tive um pequeno problema com esta hipótese que eu já havia transformado em tese. Eu realmente acreditava ter as explicações ou as hipóteses altamente prováveis para tudo o que existia no Universo.
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Verificando um pouco mais de perto (ou um pouco mais ao longe, ao se tratar de questões de Cosmologia) várias questões se verificam inexplicáveis pela Física ou pela Matemática. E como tanto esta última está limitada pelo princípio da incompletude matemática de Gödel, quanto a Física está limitada pelo princípio da indeterminação de Heisenberg e pelo comprimento de Planck para o estudo das partículas subatômicas e pelo horizonte de Hawking para o estudo da astrofísica, parece que não teremos explicação final e definitiva para praticamente nada contido no todo, que é a soma de tudo o que existe neste Universo mais o que está fora dele.
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Poderíamos considerar como fora do Universo tudo o que está ou fora do horizonte de eventos que poderemos investigar devido ao tempo que a luz levaria para nos atingir ser maior que a idade deste Universo como alguns o fazem ou então a mais longínqua posição no espaço onde exista matéria.
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Devido a estas limitações da ciência, sabemos até com boa precisão como as coisas se passam mas não sabemos os porquês finais. Por exemplo, sabemos que matéria atrai matéria na razão direta do produto das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias... mas não sabemos realmente o porquê deste comportamento. Há varias teorias (como a dos grávitons) que no fim das contas são apenas teorias.
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Os físicos e matemáticos têm um monte de teorias sobre a formação, a constituição, o futuro e o passado do Universo, mas têm realmente poucas certezas. Não sabem realmente nem se existe apenas um Universo ou um monte deles.
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Assim, não havendo explicações finais confiáveis para quase nada, ficou bastante comprometida a minha “crença/fé” anterior de que havia explicação para tudo e portanto Deus não era necessário enquanto explicação do inexplicável. Ou seja, não posso afirmar categoricamente que Deus não exista.
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Quanto à outra afirmação, de que Deus seria a explicação do inexplicável, parece que seria a hipótese mais correta, pois se não temos e nem teremos explicação final para uma série de fenômenos, então, conceitualmente, seria necessária a existência de Deus. Poder-se-ia dizer ainda que o fato de não termos as explicações não implica necessariamente que as mesmas não existam.
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Isto realmente é verdade mas aparenta que certas explicações nós nunca teremos (por quanto a singularidade inicial que gerou o Big-Bang existiu antes do inicio da expansão que gerou este Universo? / houve antes um Big-Crunch? / o que haveria além dos limites deste Universo, dentre outras).
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E se aceitarmos que as explicações existem e que nossa incapacidade em encontrá-las não tornaria as coisas inexplicáveis então haveríamos de aceitar que se a nossa incapacidade de encontrar Deus também não o tornaria não-existente.
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Tenho feito algumas pesquisas e até o momento em pelo menos um assunto há uma condição de inexplicabilidade total pela ciência em qualquer época, o que não me deixaria outra opção senão a existência de algo que se convencionou chamar de Deus em nossa sociedade. Prefiro por enquanto me abster e estudar mais para não chegar a conclusões precipitadas novamente.
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O que coloco aqui são questões a respeito da existência de Deus enquanto conceito e não do Deus pessoal a que se referem as religiões ocidentais principalmente.”

Depois disto, com a continuidade de minhas investigações, facilitada pela minha formação (eletrônica) ser em uma disciplina que exige abstração e conhecimento técnico, eu percebi que a ciência não pode realmente explicar nem o universo, nem coisas corriqueiras com as quais eu trabalhava diariamente e nem outras que fui pesquisando.

Na verdade eu comecei a notar que este mundo só pode ser explicado pela física no caso de uma única hipótese ser verdadeira, exatamente a que tornou-se com mais aceitação pela comunidade científica e a única ao alcance de pessoas fora do mundo científico.

Que é um dos fatores que fazem deste mundo um mundo materialista, esta teoria faz de muitos físicos efetivos ateus funcionais, acreditando ou não em Deus.

Mesmo quando mostrados alguns dos absurdos que as teorias mais aceitas da física atual produzem se as interpretarmos em última instância, as pessoas, mesmo as espiritualizadas, continuam achando que as tais teorias absurdas estão corretas (no que podem estar corretos admito, ninguém é dono da verdade), pois foram cegados pela mídia que divulga apenas uma das inúmeras teorias.

Isto mostra a força da Ciência atual, fundada na maior certeza que alguém tem atualmente, a certeza matemática, esquecidos que uma equação pode estar certa, mas as explicações para ela podem ser muitas.

As pessoas em geral não fazem realmente ideia em que estão acreditando. E os físicos são desde cedo transformados em disciplinados matemáticos, ou seja, para eles, se a equação disser que ele está na esquina e não na sala dele calculando a tal equação, então ele está na esquina e não se fala mais nisto.

Dificilmente uma doutrina religiosa é tão poderosa quanto a matemática em produzir fé cega. Se ela nos fez crer nos atuais enunciados das teorias da relatividade e quântica, ela é capaz de tudo. Pois ambas são contraditórias com a razão, com a lógica, com o bom-senso. E todo mundo acha normal, porque considera que negar isto seria negar a matemática, e não apenas a interpretação que damos a uma fórmula.

Como exemplo disto, tomemos a equação que mostra que a energia de uma partícula (o fóton) é uma constante (a de Planck) multiplicada pela frequência da radiação (E=h.f). O que ela mostra é indiscutível, ou seja, que a quantidade de energia desta partícula é diretamente proporcional à sua frequência e varia em múltiplos inteiros da constante de Planck.

Já as conclusões, ou mais corretamente, as interpretações que cada um tira disto, que produzem as diversas correntes de pensamento dentro da comunidade científica, são outra coisa. Elas admitem diversas interpretações e elas é que podem ser discutidas.

Se pegarmos esta equação (E=h.f) e a compararmos com a famosa equação de Einstein (E=mc2), veremos que ambas tratam de energia (E) de partículas. Poderíamos em função disto imaginar que, se dizem coisas diferentes, uma delas não pode estar certa. Mas ambas estão corretas, apenas referem-se a distintos aspectos das partículas.

Se as igualarmos, teremos que E=h.f=mc2 , de onde tiramos que m=(c2/h).f, ou seja, a massa de uma partícula será proporcional à uma constante (c2/h) multiplicada pela frequência. Isto ninguém pode discutir.

Mas, se eu disser que isto quer dizer que a massa de algo, como a consciência extracorpórea de uma pessoa, pode ser alterada pela frequência das nossas ondas cerebrais, que é o que os iogues fazem, e com isto afirmam que expandem a mente produzindo clarividência, a interpretação será apenas minha (na verdade esta teoria é de outra pessoa, à qual não citarei sem permissão).

Ninguém vai contestar as equações. Mas a minha interpretação será questionada e contestada sem a menor cerimônia, mesmo estando fundada em equações indiscutíveis.

Da mesma maneira eu questiono e contesto algumas das interpretações que se tira de equações, sem colocar em questão as equações. Assim como a minha suposta tese a respeito da consciência extracorpórea pode ser questionada sem arranhar as equações.

Mas o que tem isto a ver com religião, podem me perguntar? Na minha humilde opinião, tudo. Pois o modelo de Universo que a moderna física está considerando como o mais provável é um universo que é único e que começou em uma grande explosão, surgido de “flutuações quânticas”. Dentro e fora do universo haveria o nada e dentro dele as coisas ocorrem por puro acaso, de modo “quanticamente” caótico e desordenado.

Ora, este modelo nega a ordem, nega a ação e reação, nega a causalidade, considera que milagres (algo surgir do nada e sem causador) são a coisa mais corriqueira do mundo, nega a determinação, o planejamento, a providência, ou seja, nega a Deus. Vamos ver como isto se passaria, na minha humilde opinião.

No modelo cosmológico einsteiniano, este universo que habitamos é único, está em expansão e, em vez de espaço, substâncias e radiação (fótons principalmente), tem o tempo no meio do “balão” universal que se expande.

Este modelo é impossível de ser desenhado e muito difícil até de ser imaginado (o Marcelo Gleiser disse, no livro “A Dança do Universo” que tentar imaginar esta estrutura faz mal à saúde). Como nada sequer longinquamente parecido jamais foi observado, este modelo me causa muita estranheza.

Pois pelo modelo einsteiniano, o conjunto de tudo o que existe seria algo totalmente diferente de tudo o mais que existe, totalmente fora de qualquer padrão, que é o que a ciência procura para tentar entender o mundo: padrões.

Voltando à teoria da relatividade, ela diz que a velocidade da luz no vácuo deve parecer a mesma para todos os observadores, não importa qual a velocidade do observador.

Assim, se eu estiver parado, verei a luz passar por mim a 299792,458 Km/s. E se eu estiver em uma nave a 299000 Km/s, verei a luz passar por mim à mesma velocidade que passa se eu estiver parado, ou seja, a verei passar por mim com os mesmos 299792,458 Km/s (o que já é estranho).

Mas qual o problema disto, podem me perguntar. O problema é que isto faria com que cada objeto tenha um tamanho (e uma duração) diferente, de acordo com a diferença de velocidade entre ele e o seu observador, ou seja, um mesmo objeto teria mais de um tamanho ao mesmo tempo. Seria como dizer que “a” é diferente de “a”. Mas como, se todo mundo sabe que a=a?

Apesar desta estranheza, este modelo soluciona de maneira eficiente o paradoxo a que se chega quando pensamos nos limites do Universo e percebe-se que o que limitaria o universo também teria de ser limitado por algo, e assim por diante, o que levaria o Universo a ser infinito. Por sua vez isto levaria à necessidade de uma quantidade infinita de pontos espaciais, o que seria conceitualmente impossível.

No modelo cosmológico que pessoalmente considero mais provável, este universo que habitamos está em expansão e tem espaço, radiação e substâncias (partículas) em quantidade cada vez maior no meio deste universo que se expande, o que corresponde a todas as observações que já foram feitas de estruturas em expansão. Além disto, ele não seria o único.

Aparentemente, no entanto, como ambos os modelos representam universos em expansão, a diferença seria pouca.

Só que, neste caso, esta pequena diferença na explicação produziria uma grande diferença nas consequências, como se poderá ver abaixo.

Pois o modelo de Einstein, com o tempo no meio, torna este universo único e limitado à região em que existem os campos gravitacionais que produziriam o tecido do espaço-tempo, ou seja, no modelo atualmente aceito pela maioria da comunidade científica, tanto o espaço quanto o tempo são produto de campos gravitacionais, o que é expresso através da fórmula de espaço (ds2=gik.dxi.dxk), onde os campos gravitacionais são representados por  gik”. [A Teoria da Relatividade Especial e Geral, Albert Einstein, Contraponto Editora, ISBN 85-85910-27-5, pg. 127]

Com isto, nem espaço e nem tempo existiriam antes de existir massa, pois é dela que emanariam os campos gravitacionais que os constituiriam, ou seja, no modelo cosmológico einsteiniano, como os campos gravitacionais só podem existir se houver massa, ou seja, matéria bariônica, o universo existe apenas na região de influência destes campos gravitacionais, a qual passou milagrosamente a ter massa no instante do Big-Bang.

É esta concepção de universo que faz a maioria dos físicos atuais ateus funcionais, mesmo que tenham crença religiosa, e a nossa sociedade uma sociedade materialista.

Pois ele torna-se único e autossuficiente, principalmente depois que os físicos quânticos vieram com a (para mim absurda) ideia de que coisas podem passar a existir a partir do nada.

O universo teria se formado apenas a partir de leis naturais e de “flutuações quânticas” (sic), oficializando milagres sem Deus para fazê-los (tsc, tsc, tsc). Não é à toa que alguns dos mais renomados físicos do último século tiveram de dizer que o bom senso deve ser abandonado, assim como a lógica, à qual passaram a chamar de aristotélica para desmerecê-la em favor da sua falta de lógica, os absurdos postulados pela teoria quântica.

Mesmo assim, a fina sintonia entre as leis e constantes universais tem deixado alguns pesquisadores espantados. Vejamos o que o físico britânico Roger Penrose disse a respeito.

“Qual a probabilidade de que, puramente por acaso, o Universo tivesse uma singularidade inicial que se parecesse mesmo remotamente com o que é? A probabilidade é de menos de uma parte em 1010123. De onde vem esta estimativa. É derivada de uma fórmula de Jacob Bekenstein e de Stephen Hawking acerca da entropia de buraco negro”. [O grande, o pequeno e a mente humana, Roger Penrose, Fundação Editora da Unesp, 1998, grifos meus]

Para quem não conhece o Roger Penrose, ele é amigo pessoal e citado várias vezes por Stephen Hawking no livro “O universo numa casa de noz”. Nem Hawking contestou o cálculo do Roger Penrose feito com uma fórmula de autoria dele, mesmo tendo escrito um capítulo do livro do Penrose, onde polemizou com o mesmo a respeito de outros assuntos (mas neste ele nem tocou).

Para quem não sabe o que quer dizer este número (10 elevado a 10 elevado a 123), vamos tentar explicar o tamanho dele. Para ir se acostumando, comece a pensar em um número absurdamente grande para os nossos padrões: pense na quantidade de grãos de areia existentes no nosso planeta.

Depois pense na quantidade de grãos de areia existentes em todos os planetas deste universo. Depois pense na quantidade de estrelas existentes em nossa galáxia. Depois pense em todos os átomos existentes em todas as galáxias deste universo. Agora pense na soma de todos os elétrons, prótons e nêutrons (partículas elementares) de TODO O NOSSO UNIVERSO: dá mais ou menos 10 elevado a 82 partículas “apenas” (ou, em notação científica, 1082).

Agora vamos aumentar um pouquinho este número: se tivéssemos dois universos do tamanho do nosso, nós teríamos apenas 2 x 1082. Já, se para cada partícula elementar (prótons, elétrons ou nêutrons) existente no nosso universo atualmente observável, houvesse outro universo igual a este que habitamos, teríamos "apenas" 10164 partículas elementares em todos eles juntos.

E se para cada partícula de cada um destes universos todos, nós tivéssemos outro universo igual ao nosso, teríamos "só" 10328 partículas. Se eu repetisse este processo 400 (quatrocentas) vezes e a cada vez eu gerasse um universo para cada partícula elementar da soma de todos os universos gerados até então, eu ainda não chegaria a 10 elevado a 10 elevado a 123 (1010123) partículas elementares em todos eles somados!!!

A respeito disto também encontramos o seguinte texto em outro livro: “A aparente coincidência de o Universo ter as propriedades especiais necessárias para permitir a vida afigura-se muito menos milagrosa, de um momento para o outro, ao adotarmos o ponto de vista de que o nosso Universo, a região do espaço-tempo a que estamos ligados, é apenas um dentre inúmeros outros universos”. [Uma biografia do Universo: do
Big-Bang à desintegração final, Fred Adams, Greg Laughlin, Jorge Zahar, 2001]

Ou seja, a situação APENAS fica MENOS milagrosa. Mas fica. Ainda assim, para tentar fugir da irrefutabilidade da necessidade de um ser muito inteligente para gerar esta situação surreal de vivermos em algo (este universo) indescritivelmente improvável (na verdade, virtualmente impossível) passa-se a especular e conjecturar infinitamente.

E bota infinitamente nisto, pois especula-se a respeito da possibilidade de existência de uma quantidade praticamente infinita de UNIVERSOS ... É, até o presente momento a maior especulação que já vi em toda esta minha existência (não que não possamos ter uma quantidade ilimitada de universos além deste. Apenas é estranho que sisudos cientistas proíbam os outros de qualquer hipótese sem evidências aceitas por eles, enquanto especulam sem nenhuma evidência e com a maior desfaçatez quando lhes é interessante).

Mas aí passamos a ter outro problema. Pois no modelo einsteiniano não há nada fora deste universo. Se o nada (seja lá o que isto for, porque o nada é, conceitualmente, o que não é e, não sendo, não pode existir) limita este universo, o que haveria a nos separar dos demais infinitos universos infinitos? Nada não pode separar algo de outro algo, caso contrário não haveria separação (coisas com nada separando na verdade estão juntas).

Então esta hipótese (a existência do nada limitando este universo, ou seja, o espaço-tempo do nosso universo em expansão), que contornaria a questão do paradoxo da infinitude do espaço e tornaria a existência de Deus supostamente desnecessária, passa a ter também grandes problemas.

Pois com o absurdo sincronismo observado (1010123) passamos a ter necessidade de alguém muito inteligente (Deus) para projetar isto. Ele só voltaria a ser desnecessário se houvesse uma quantidade praticamente infinita de universos com características diferentes (de modo que o sincronismo aqui observado seja apenas um caso entre zilhões). O que geraria a necessidade de “algo” separando estes universos e se este “algo” consegue separar universos é porque este “algo” é algo diferente de nada.

Parece óbvio, mas é necessário dizer: “algo” não pode ser nada. E nada não pode ser “algo”. Logo, se algo existe a ponto de separar uma quantidade (e infinita ainda por cima) de universos, então o nada não pode ser o que limita este universo. Teria de haver algo, uma espécie de espaço diferente, ao qual poderíamos chamar de hiperespaço (que não sei se é o que os físicos chamam com este termo) ou simplesmente espaço mesmo, a separá-los. E em quantidade infinita, com capacidade de separar, conter e limitar infinitos universos infinitos.

Mas aí volta-se ao paradoxo inicial: é inconcebível a existência de algo, de uma extensão espacial (ainda mais com várias dimensões), com uma quantidade infinita de pontos eternamente a disposição para ser preenchida por matéria, energia, radiação, etc.

Fora outro probleminha básico: se já é difícil imaginar de onde veio tudo o que há neste universo, o que diremos dos “tudos” que haveriam nos infinitos universos imaginados para impedir a necessidade da existência do arquiteto do universo?

Assim, por mais que se esperneie, e por mais que eu tente, não consigo deixar de ter clara a necessidade da existência de algo ou alguém que seja a explicação (e causa, pois efeito sem causa é milagre, o que, novamente nos levaria à causa do milagre, que, em tese, só poderia ser “causado” por Deus, de novo) para a existência do Todo e de tudo o que nele há, ou seja, Deus.

Ou seja, apesar do modelo einsteiniano de universo levar a comunidade científica e a sociedade (ocidental, principalmente) a uma postura materialista, ele tem características tão especiais e improváveis de surgirem por puro acaso “quântico” que o levaram a ser considerado mais improvável por cientistas de renome (como o Penrose) quanto alguém ganhar todos os dias da vida na loteria (esta probabilidade é bem maior do que uma em 1010123). E é tão bizarro que nem imaginá-lo podemos sem correr o risco de ficar doentes, como o Marcelo Gleiser nos advertiu.

Além disto, como se não fosse suficiente, quando se fala que este universo surgiu no instante do Big-Bang apenas a partir de leis naturais, outro problema passa a existir, e maior ainda.

Pois isto implica inescapavelmente que este universo, que seria o único, seria efeito de leis naturais. Esta parte não tem como ser discutida.

Pois bem, atualmente considero que os modelos que utilizamos para explicar o mundo têm tanta chance de se manterem como conhecimento científico por mais meio século quanto o modelo geocêntrico de Ptolomeu.

São modelos provisórios e, portanto, não há como se adotar conclusões sobre eles. Ainda assim, qualquer que seja o modelo, a qualquer época, fica a questão:

Como é que vieram a existir as leis naturais?

Sendo elas que determinaram todo o restante do mundo físico, são certamente a primeira entidade "física" (natureza, em grego) a existir e, não podendo auto causar-se, pediriam algo além da física como causa de si mesmas.

Por lógica inescapável, na minha humilde opinião (argumentos contrários, com embasamento em experimentos ou em lógica, e não em postulados e declarações de convenções e crenças serão extremamente bem vindos e efusivamente agradecidos).

Se alguém puder responder como algo pode existir antes de existir de modo a causar-se, então não haverá a necessidade da existência de algo além dele mesmo para explicar-se.

Já se não pudermos fornecer evidências, empíricas ou lógicas, de que algo pode auto causar-se, haverá sempre a necessidade de algo que o anteceda e que seja a sua causa.

Se este algo existente for todo o mundo físico, ou as leis que o causaram, então a sua causa, inevitavelmente, será além dele e além delas, metafísico portanto. Já quanto aos atributos considerados e outros detalhes, é assunto para outro texto.

Ou, seja, mais uma vez o modelo adotado pela nossa orgulhosa (e pretensamente sisuda, quando é do interesse dela) comunidade científica leva à necessidade de algo que anteceda o físico para poder causá-lo. E como o que haveria antes do físico inexoravelmente tem de ser metafísico, não há como ter existido o físico sem o metafísico, o sobrenatural, Deus.

Aliás, repito aqui o cordial desafio que já fiz em outros locais de discussão: se o Universo é efeito de leis naturais, como é que estas leis naturais vieram a existir sem que sejam causa e efeito de si mesmas, o que as obrigaria a existir antes de existirem, de modo a se auto causarem? Como pode algo ser efeito de si mesmo, existir antes de existir?

É-me evidente que este mesmo questionamento não poderia ser aplicado a um ser sobrenatural, pois ele estaria acima das leis naturais, como o próprio nome indica, de modo que aquela típica resposta lenga-lenga que apenas faz a mesma pergunta a respeito de seres sobrenaturais não teria sentido. Pois está-se tratando de seres de diferentes naturezas, naturais, sujeitos às leis naturais, e sobrenaturais, acima das mesmas leis.

A partir destas considerações, pode-se verificar que uma análise mais cuidadosa do modelo einsteiniano nos levaria a afirmar a necessidade de um ser sobrenatural que tivesse produzido as leis naturais que por sua vez produziram o Universo (depois de ter chego a esta conclusão descobri que Kant já a havia descrito no livro “Teoria do Céu”, o que é muito bom, é bem melhor estar de acordo com Kant do que com Dawkins, aquele adolescente escandaloso).

Mas por que então, o modelo atual gera ateus? Porque os que assim consideram trabalham com fé cega em equações, de modo que já não há questionamento, contestação, apenas fé, oriunda de suas certezas matemáticas, o que já levou muitos a afirmarem matematicamente no século XIX que trens não poderiam mover-se a mais de 36 Km/h, pois os passageiros morreriam asfixiados. E que besouros matematicamente não podem voar ainda hoje. E voam.

Já no modelo de universo que considero ser mais provável, este universo não seria necessariamente o único e sim um dos muitos possivelmente existentes.

Como, no modelo da minha preferência, (1) o espaço é apenas uma estrutura que nos envolve e na qual existem os corpos, e (2) o tempo é apenas a duração do que existe, o Universo, ou o conjunto de universos existentes, não estaria limitado à região onde existissem os campos gravitacionais provenientes da matéria milagrosamente surgida a partir de “flutuações quânticas” (sic) no instante do Big-Bang.

O Universo seria ilimitado, com o espaço sendo eternamente existente, assim como pequenas partículas de matéria primordial (que seriam o que a ciência atual chama de préons atualmente) espalhadas neste espaço, do mesmo modo que moléculas de ar são espalhadas na atmosfera terrestre, co-eternas com o espaço.

Neste conjunto, este universo que habitamos ocuparia uma ínfima porção do Todo, e seria a região em expansão em que existissem linhas de força de campos elétricos, magnéticos e gravitacionais emanando de uma das regiões polares de um imenso buraco negro ou uma rádio galáxia tipo FRII de tamanho descomunal (seria exatamente o que o Gênesis afirma que ocorreu com o “faça-se a luz”).

Esta descrição do modelo de minha preferência muito se assemelha, apenas em relação a este universo e não em relação ao Universo como um todo, ao que o modelo einsteiniano prevê (se assim não fosse as equações não poderiam ser as mesmas e delas é difícil abrir mão), se substituirmos as linhas de força dos campos elétricos, magnético e gravitacional pelo campo gravitacional decorrente da matéria bariônica.

Mas há uma diferença fundamental: este modelo pode ser desenhado, imaginado, visualizado e fotografado.

Além disto, existem inúmeras estruturas exatamente como o modelo que prefiro prevê para o Universo, em outras escalas de tamanho, que vão do interior dos átomos a galáxias inteiras, o que faria dele apenas mais uma estrutura de um padrão largamente observado, de facílima compreensão, como aliás imagino que seria de se esperar da obra de alguém muito inteligente.

Pois se um ser maximamente inteligente fizer algo, o que se espera, que ele faça da maneira mais simples ou da mais complicada? A mim é evidente que é da maneira mais simples possível, já que este ser é o mais inteligente possível. E jamais da forma mais complicada.

E alguém por acaso conhece algo mais complicado do que a soma da teoria quântica com a da relatividade? Será que justamente o ser mais inteligente do Universo faria as coisas da maneira mais complicada possível? Isto não seria nem ser malicioso, seria cinismo, e isto Deus não pode fazer, pois deixaria de ser o máximo, o que Ele inescapavelmente é (aliquid quo nihil maius cogitari possit ou, alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar, na definição de Alselmo).

Voltando ao meu modelo preferido de Universo, não podemos atualmente fotografá-lo de fora, pois atualmente estamos dentro dele. Mas existe o lado de fora, assim como existe o lado de dentro, o que não ocorre com o modelo einsteiniano, no qual temos o passado dentro e o futuro fora, de modo que é impossível sair do Universo porque não há lado de fora.

Só que o meu modelo preferido de Universo tem um problema de difícil solução. Que seria o problema do que limita o universo ser também limitado por algo, o que o levaria a ser infinito.

Uma estrutura desta é tratada desde a mais remota antiguidade como incognoscível, inconcebível, inimaginável, impensável, ininvestigável e inefável, ou seja, além da física, metafísico portanto, além da natureza, sobrenatural portanto.

Uma estrutura com estas características é além do que a física e a mente humana podem conceber, o que me levaria a considerar a necessidade de algo além da física e que no ocidente deste planeta se costuma chamar de Deus.

Muitos dizem que o modelo cosmológico padrão, como é conhecido o modelo produzido pela teoria do Big-Bang, é compatível com o descrito no Gênesis, com o “faça-se a luz”, o que se repete com o meu modelo preferido, como acima exposto.

Mas, paradoxalmente, este modelo (o padrão da comunidade científica atual) nega logicamente a existência de Deus, ou seja, as teorias conhecidas como modelo cosmológico padrão (teoria do Big-Bang) e modelo padrão de partículas (teoria quântica) são logicamente contraditórias com a existência de Deus, se considerarmos a definição de (santo) Anselmo (aliquid quo nihil maius cogitari possit).

Pois, em última instância, o modelo padrão propõe que tudo é relativo, o que deixaria Deus, o Absoluto, de fora. Além disto, é fundado na incerteza e na indeterminação, o que deixaria o determinismo divino fora dos negócios do Universo, como aliás reclamou pesadamente Einstein, ao dizer que Deus não joga dados.

Não podem ser concordantes. NÃO TEM COMO a tese e sua antítese serem simultaneamente verdadeiras para o mesmo local, estrutura ou entidade.

Isto nós podemos esquecer.

Há alguns dias eu postei algo sobre o suicídio quântico, que seria uma das consequências da teoria quântica, em que todos os seres conscientes seriam imortais e em que existiriam universos aparecendo do nada a cada instante, contrariando os princípios de conservação de massa, de energia e do mais ínfimo senso crítico.

Como os físicos constatam em experimentos em laboratório que partículas virtuais aparecem e se aniquilam no alto vácuo em tempos extremamente curtos (trilhonésimos de trilhonésimos de segundo), e que partículas aparecem onde não poderiam através de tunelamento e de saltos quânticos, então eles dizem que as coisas podem surgir do nada, inclusive universos inteiros que duram dezenas ou centenas de bilhões de anos, ou mais, o que é mais do que absurdo, é uma aberração lógica inimaginável.

A estas sumidades, que só podem ter sido cegados pelas suas certezas matemáticas, não passa pela cabeça que partículas massivas que são detectadas onde não estavam, podem apenas ter vindo de outro lugar ou se formado a partir de partículas de matéria primordial (préons), mais ou menos da mesma maneira como um furacão se forma a partir de moléculas de ar e sem nenhum milagre ou violação de princípios de conservação de massa, energia e juízo.

Ou seja, e tentando finalmente concluir,

(1) pelo modelo que considera que há um Universo que é único, limitado à uma pequena região onde existem campos gravitacionais decorrentes da formação milagrosa de matéria a partir de flutuações quânticas e de leis naturais preexistentes a ele, estas leis, sendo preexistentes à primeira estrutura natural (o próprio Universo), não podendo ser efeito de si mesmas (para tanto haveriam de existir antes de existir de modo a serem produto de si próprias), têm de ter natureza sobrenatural e metafísica, o que nos leva a necessidade da existência de Deus, que seria, parafraseando Avicena, o existente necessário.

(2) pelo modelo que considera que o universo não é apenas esta estrutura gerada da milagrosa maneira descrita na teoria do Big-Bang, podendo ou não ter outros além deste, mas que em última instância não seria limitado como o modelo padrão prevê, no qual o tempo não estaria intrinsecamente ligado ao espaço formando o incompreensível espaço-tempo (mesmo quem diz que o entende não consegue nem imaginá-lo ou desenhá-lo, quanto mais explicá-lo) e que é compatível com a imensa maioria dos modelos cosmogônicos descritos em todas as demais teorias filosóficas, mitológicas e científicas (à exceção do modelo atualmente padrão), o Universo seria ilimitado, o que, desde tempos imemoriais, é considerado incognoscível e inexplicável, o que torna mais uma vez necessária a existência de algo ou alguém com a condição de explicar o inexplicável (que não mais poderia ser o inexplicável da explicação, pois um espaço tridimensional ilimitado é eternamente inexplicável), o que mais uma vez torna esta explicação, metafísica e sobrenatural, Deus, necessariamente existente, mais uma vez.

É evidente que estou a par da possibilidade (aventada pelo grande David Hume, a quem o meu grande amigo Immanuel Kant agradeceu por tirá-lo do sono dogmático em que se encontrava) de uma divindade ter gerado o mundo e já não mais existir.

Se, no entanto, seres de baixíssimo conhecimento tecnológico, como nós na atualidade, já pensamos em gerar processos para transmitir a nossa mente para outros corpos e assim nos tornarmos virtualmente imortais, o que se dirá de quem teve a condição, inteligência e potência de produzir esta esplêndida obra, que abrange simplesmente tudo o que há no todo.

Desta maneira, tendo em vista tudo o que já investiguei a respeito da realidade que percebemos de maneira solidária e convencional, tenho a necessidade de deixar, da maneira mais clara a mim possível neste momento, a minha posição a respeito disto e, parafraseando parcialmente o grande mestre René Descartes, afirmo categoricamente que

penso, logo Deus existe.

E, na minha humilde porém fundada opinião, nisto não estou nada enganado.

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