Após estabelecer uma base conceitual mínima, eu apresentei o artigo Penso, logo Deus existe! na madrugada do dia 04.11.2011, no qual eu discorri sobre os motivos que me permitem afirmar categoricamente a necessidade da existência de um ser que tem as características e atributos que normalmente nos levam a chamá-lo de Deus no ocidente deste planeta.
Mas faltou algo, pois eu falei em me ater a fatos e em lógica e, apesar de ter-me referido ao que podemos considerar atualmente fatos (observações e medições da realidade, efetuadas e efetuáveis por qualquer pessoa em idênticas condições) a minha conclusão, mesmo bem fundada, não usou de um certo formalismo na sua apresentação, de modo que pode ficar mais uma vez entendida como uma opinião, bem fundada, mas uma opinião.
Pois uma afirmação categórica logicamente sustentada pede um rito mais bem apresentado, o que, a rigor, não foi feito por mim.
No caso da existência de Deus, para que se possa fazer a afirmação lógica e irrefutável da necessidade de sua existência, havemos de alinhar um conjunto de argumentos no qual as premissas sejam inegáveis e a conclusão delas decorrente implique na inegável necessidade da existência de Deus, e não apenas da mera possibilidade desta existência, a qual não pode ser jamais negada, visto negativas universais serem nulas de valor lógico.
O primeiro passo seria definir o que é Deus, ou seria impraticável qualquer tese a respeito d’Ele e de sua existência.
No texto foi usada principalmente a definição de (Santo) Anselmo, em que Deus seria “alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar”.
Esta definição, apesar de vir de alguém considerado santo pela ICAR, tem sido usada na filosofia através de quase um milênio, inclusive por Kant. No texto do artigo Penso, logo Deus existe! foram usadas também outras definições, a de que Deus poderia ser uma de duas alternativas,
(1) a explicação no inexplicável (em que Ele seria necessariamente existente, pois não existiria explicação para algo dentro das leis da natureza por toda a eternidade); e
(2) o inexplicável da explicação (em que Ele não seria necessariamente existente, apenas o nome que damos à parte da explicação que atualmente não temos, mas que um dia teremos, ou que simplesmente existe ou é minimamente plausível existir).
Além destas há outra, ainda não citada neste blog, que O considera como o princípio supremo de explicação da existência, da ordem e da razão universais, à qual encontrei no Aurélio em 2003 e considero suficiente e adequada, pois isenta e imparcial.
Como todas são conceituais (ou seja, filosóficas) e não doutrinárias (ou religiosas) considero que podemos usar de qualquer uma delas para tentar provar logicamente a necessidade ou não da existência de Deus.
A primeira definição não nos seria útil para analisar a necessidade da existência de Deus, a não ser que seja repetido o argumento ontológico, do próprio Anselmo e testado desde o século XI por pensadores do nível de Schelling, Leibniz, Kant e mesmo Kurt Gödel, já no século XX, o qual é considerado o maior de todos os matemáticos (que o analisou de proferiu a sentença, com atributo de verdade lógica e matemática: se é possível haver um Deus, então há - eu não tenho notícia de alguém que tenha contestado uma conclusão lógica emitida por Gödel).
Ou seja, por mais modestos que sejam os meus recursos, considero bem melhor estar de acordo com Gödel do que estar contra ele, principalmente porque a área em que ele tornou-se imbatível é a lógica, filha da Razão, outro e melhor nome de Deus.
Isto já me permitiria encerrar o assunto pois, se um teorema já é considerado algo indiscutível, um teorema de Gödel [1] fica bem mais difícil de ser contestado.
Só que, como nem mesmo eu o usei para formar a minha atual posição a respeito deste assunto, não poderia considerar razoável apresentá-lo como evidência de minhas conclusões.
Além da definição de Anselmo, entendo que as demais podem igualmente descrever adequadamente o ser cuja necessidade de existência estou me propondo a analisar de forma mais rigorosa.
Vou tentar então analisar esta questão pela definição que encontrei no Aurélio, ou seja, Deus sendo considerado como o princípio supremo de explicação da existência, da ordem e da razão universais.
À primeira vista, está definição pouco pode nos ajudar mas, se olharmos o que consideramos realidade, pode ser que ela possa ser mais útil do que talvez pudéssemos desconfiar.
Apesar de não podermos saber o que é realidade, passamos a considerar que ela é o que nos parece ser e, neste caso, observando a existência de algo, concluímos que este algo, por existir, necessita de causa e explicação para tanto.
Sendo um pouco mais abrangente, mesmo que não consideremos que a realidade é o que se observa e sim muito diversa disto, como se fôssemos por exemplo um cérebro em uma vasilha (o Descartes previu esta possibilidade), ou estivéssemos em uma Matrix, atrás do véu de Isis ou Maia (esotéricos), na memória de um computador universal (Turing) e fôssemos parte de uma realidade simulada, e estas coisas todas, ainda assim o fato de pensarmos garante que existimos, em qualquer condição que seja.
Como esta existência não se explica por si, ela necessitaria de algo externo a ela que explicasse e proporcionasse esta existência, a qual teria também necessidade de causa, origem, explicação.
Como as hipóteses aventadas da constituição do Universo acabariam resumidas a duas delas (universo finito autocontido ou um universo infinito) e nenhuma deles consegue explicar-se por si mesmo ou às leis da natureza responsáveis supostamente responsáveis únicas pela formação e funcionamento deste algo que existe, teríamos o seguinte quadro.
Se,
penso,
então,
existo!
Se,
existo,
e
não posso existir no nada e a partir do nada,
então,
algo além de mim existe.
Se,
- algo além de mim existe;
- tudo o que existe tem de ter causa e explicação;
- não há explicação conhecida e eficaz para a existência do que existe dentro das leis naturais;
e
- o que existe não pode ser causa de si próprio,
então,
há que existir uma explicação para a existência deste algo que existe fora das leis naturais.
Se,
há que existir uma explicação para a existência deste algo que existe fora das leis naturais,
e
a primeira coisa natural a ter existido e fonte de todas as outras foram as leis naturais,
então,
a causa das leis naturais tem de ser necessariamente sobrenatural.
Se,
Deus, sendo sobrenatural e o princípio supremo de explicação da existência, da ordem e da razão universais,
e
as leis naturais são responsáveis pela existência, ordem e razão universal,
então,
Deus é necessariamente existente como causa sobrenatural da primeira coisa natural e anterior a ela, ou não poderia ser sua causa.
Se,
Deus é a causa de algo, qualquer que seja este algo,
então,
Deus existe.
Resumindo,
Penso,
então,
Deus existe.
Ou,
penso, logo Deus existe.
c.q.d.
Caso haja discordância em relação a qualquer uma das afirmações a conclusão estará logicamente prejudicada.[2]
Pessoalmente não consegui duvidar de nenhuma das afirmações que serviram de sustentação, mas evidentemente, como todo aprendiz, estou aberto à contribuição séria e honesta de quem quer que seja.
Paz e Felicidade a todos
Um aprendiz
Apenas a Verdade prevalecerá
[2] Esta sequência lógica pode ser muito mais bem explicada caso necessário. Isto não foi feito aqui e desta vez, mas pode ser feita sem nenhum problema e a qualquer hora.
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[1] Podem alguns estranhar que eu esteja citando um desconhecido (para quem não tem intimidade com esta área) matemático chamado Kurt Gödel e confrontando um famosíssimo Einstein, além de Bohr, Heisenberg e companhia belamente adornada com dezenas de prêmios Nobel.
Pelo que percebi, no entanto, eu invariavelmente acabo discordando das teses de quem nos pede que desconsideremos a lógica e o bom senso, filhos da Razão, e concordando com os que privilegiam a razão crítica, mesmo que tenha alguma discordância secundária com suas posições, o que me leva a definir-me como pitagórico, socrático, cartesiano, humeano e kantiano (além de newtoniano).
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